Homoparentalidade

Abstract

Trata-se de uma investigação teórica que objetivou compreender os impactos na constituição psíquica da criança adotada por um casal homoafetivo. Apresentam-se os avanços relacionados à viabilidade jurídica desse tipo de adoção e, a partir da teoria psicanalítica, destaca-se a importância das funções parentais na constituição psíquica, uma vez que são exercidas na ordem do simbólico, interligando-se ao desejo e à significação da criança e não necessariamente submetidas ao real da anatomia do par parental. As considerações finais apontam para a necessidade de uma ampla discussão sobre a família homoparental e destaca o papel do psicólogo na compreensão dessa organização familiar.

Homoparentalidade Masculina: Experiências De Pais Homossexuais

“…À parentalidade compete o exercício das funções parentais por parte dos adultos em relação aos filhos (Pombo, 2019), fundamentando-se no desejo dos pais e na adoção simbólica que estes realizam no tocante às crianças (Ribeiro, Mendes, Couto & Azevedo, 2017). Ser pai e mãe é visto como um processo singular que ocorre baseando-se na reflexão pessoal sobre a herança a ser transmitida intergeracionalmente, sendo, a parentalidade, entendida como fruto da relação entre os laços biológicos e a parentalização dos pais.…”

“…Esta parentalização ocorre a partir da interação própria que os filhos estabelecem com seus genitores, reconhecendo-os dentre outros semelhantes, o que promove o despertar de sensações, emoções e afetos que propiciam a internalização de funções específicas, constituindo a parentalidade e marcando uma parceria ativa entre pais e filhos (Gorin, Mello, Machado & Féres-Carneiro, 2015;Lebovici, 2004). A legitimação da parentalidade a partir da possibilidade de dedicação dos pais à sua prole valoriza a dimensão afetiva como modo de vinculação familiar que independe de vínculos legais e/ou consanguíneos para estabelecer-se (Ribeiro, Mendes, Couto & Azevedo, 2017;Rosa & Pessôa, 2019).…”

“…Sob esta ótica, tornou-se possível desvincular as dimensões biológica, de parentesco, de filiação e dos cuidados, que até então eram vistas como necessariamente reunidas na mesma pessoa e representadas na figura do pai e da mãe (Ribeiro, Gomes & Moreira, 2015;Zambrano, 2006). Os fatores biológicos, genéticos e de parentesco são indispensáveis para o surgimento da vida, contudo é por meio da parentalidade que a criança desenvolve condições para simbolizar e se tornar um ser desejante (Ribeiro, Mendes, Couto & Azevedo, 2017).…”

“…Seguindo esse raciocínio, entende-se que para desempenhar a função materna é necessário disponibilidade para se identificar com as demandas do filho, enquanto a função paterna pode ser exercida pelo cuidador que se comprometa a impor limites e mediar a relaçãoentre o bebê e a pessoa que executa a função materna, sendo, ambas as funções, exercidas independentemente do sexo biológico portado pelo cuidador (Ribeiro, Mendes, Couto &Azevedo, 2017).…”

“…No caso específico dos homens, há ainda a necessidade de doação temporária de útero, conhecida como barriga de aluguel. Em todos os procedimentos pode-se utilizar o sêmen de um doador anônimo ou de um dos pais (Ribeiro, Mendes, Couto & Azevedo, 2017). Apresenta-se, como terceira possibilidade, a coparentalidade, por meio da qual homossexuais se associam a parceiros do outro sexo para facilitar a chegada e os cuidados com o(s) filho(s), podendo haver ou não relações sexuais entre eles (Tarnovski, 2013).…”