Igualdade De Gênero

Abstract

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Quando o teto de vidro se torna de concreto : a sub-representação de mulheres negras nos postos diretivos do Executivo federal entre 1999 e 2020

“…Ainda em 2017, foi novamente realocada, compondo a Secretaria de Governo da Presidência da República, e, em junho de 2018, voltou a se vincular ao Ministério dos Direitos Humanos, passando por um total de quatro mudanças administrativas em três anos. Em 2019, na gestão do presidente Jair Bolsonaro, a SNPM sofre mais uma alteração, e passa a integrar o Ministério das Mulheres, Família e Direitos Humanos (Mostafa et al, 2019;Tokarski et al, 2022). Estas sucessivas mudanças, com perdas institucionais, podem ter contribuído para a redução de cargos DAS-equivalentes ocupados por mulheres, em especial pela redução dos cargos da própria SPM.…”

“…Os efeitos da eleição de Jair Bolsonaro sobre a igualdade de gênero incluem, entre tantas outras questões, o avanço de um discurso e de uma agenda neoconservadora, que, antes circunscritos ao Parlamento (Mostafa et al, 2019), passam a ocupar o Poder Executivo federal. A partir desta nova agenda, alguns debates são interditados -como a própria pauta de gênero, termo que passa a ser retirado do espaço do governo por meio de uma associação com a expressão "ideologia de gênero" -, e abre-se caminho para uma "nova política" baseada na família e na qual as mulheres são incorporadas tendo como base valores tradicionais de gênero (Tokarski et al, 2022).…”

“…Por serem posições mais diretamente associadas ao contexto, às articulações e ao jogo político, a ocupação destes cargos é menos estável e, tal como pode ser visto no gráfico 4, a participação feminina aqui varia bem mais do que nos DAS e equivalentes. Em seu "melhor momento" -talvez durante a gestão mais comprometida com a incorporação de uma perspectiva de gênero à agenda governamental (Tokarski et al, 2022) -, as mulheres conseguiram ocupar apenas um quarto dos cargos de natureza especial. Em 2005, quando a gestão era de um homem vinculado a um partido de esquerda e quando a SPM era dotada de status ministerial, as mulheres ocuparam apenas onze dos 51 NES disponíveis, maior quantidade também em termos absolutos.…”

“…Reforçar a importância de medidas de natureza afirmativa, que corram ao lado das políticas de cunho universalistas, é fundamental para que quadros estruturais possam ser alterados em prazos menores. É urgente, também, que preconceitos e estereótipos de gênero e raça sejam firmemente combatidos, e não reproduzidos, pelos agentes do Estado, como se tem visto, frequentemente, ao longo dos últimos anos (Tokarski et al, 2022). É urgente, ademais, que a divisão sexual do trabalho seja enfrentada, e que o trabalho doméstico e de cuidados não remunerado seja compartilhado não apenas entre homens e mulheres, mas que também o Estado assuma sua responsabilidade na reprodução da vida.…”