Associação entre condições socioeconômicas, sanitárias e de atenção básica e a morbidade hospitalar por doenças de veiculação hídrica no BrasilAssociation between socioeconomic, health, and primary care conditions and hospital morbidity due to waterborne diseases in Brazil Asociación entre condiciones socioeconómicas, sanitarias y de atención básica y la morbilidad hospitalaria por enfermedades de transmisión hídrica en Brasil
IntroduçãoOs elevados níveis de poluição ambiental observados atualmente vêm acarretando perdas econômi-cas e de bem-estar da população 1 , que se torna cada vez mais exposta ao acometimento de doenças relacionadas à variações na quantidade e na qualidade dos recursos naturais disponíveis 2 . Nesse contexto, a contaminação hídrica é um dos principais problemas ambientais enfrentados pela população, estando diretamente ligada à perda das condições de saúde dos indivíduos, especialmente nos grupos mais vulneráveis e regiões mais pobres 2,3 .A falta de saneamento ambiental adequado é tida como uma das principais causas da poluição e da contaminação das águas para o abastecimento humano e está, portanto, contribuindo para os casos de doenças de veiculação hídrica 4,5,6,7,8,9,10 .No Brasil, as condições de saneamento ambiental, apesar de apresentarem melhoras nos últimos anos, ainda são deficientes. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 11 , apenas 55% dos municípios brasileiros possuíam, em 2008, rede coletora de esgoto e, do total do esgoto coletado, apenas 68,8% passavam por algum tipo de tratamento antes de ser depositados nos corpos dos rios. Outros dados importantes da pesquisa indicam que até o referido ano o destino dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios eram os "lixões" e que em 12,8% dos municípios a água fornecida era apenas parcialmente tratada ou não passava por nenhum tipo de tratamento (6,6%).Tal realidade não se verifica apenas no Brasil. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) 12 , em 2011, 64% da população mundial não contavam com instalações sanitárias melhoradas e 89% usavam água potável proveniente de uma fonte adequada, além de outras deficiências no sistema de saneamento.Melhorias na qualidade da água, no saneamento básico e nas condições de higiene da população poderiam reduzir os casos de doenças, sobretudo em grupos etários mais vulneráveis, como crianças e idosos 2 . Estudos já realizados comprovaram a associação entre saneamento inadequado e casos de diarreia no Brasil 13,14,15,16,17 e em outros países, como a África do Sul 18 e países da América Latina 19 , tendo em conta, na maioria dos casos, crianças e idosos.Outras doenças de veiculação hídrica atingem grupos etários distintos e também são responsáveis, juntamente com a diarreia, por elevado número de internações. No ano de 2015, segundo dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS. Informações de saúde. http://www2.datasus.gov. br/DATASUS/index.php, acessado em 10/Mar/2015), doenças como cólera, febres tifoide e paratifoide, shiguelose, amebíase, diarreia e gastroent...