Aleijar as antropologias a partir das mediações da deficiência demente, esclerosado, etc. Em síntese, somos uma sociedade que tem verdadeiro fetiche por adjetivos relacionados à ontologia negativa da deficiência e outras condições de saúde. Estamos mais familiarizados com o exercício epistemológico e político de posturas antirracistas e anti-LGBTfóbicas, mas parece que a antropologia pouco tem refletido sobre o capacitismo (Mello, 2016) e o que implica ser anticapacitista, cultivando uma "cultura do acesso" de modo a garantir e promover a acessibilidade também para as pessoas com deficiência 2 nos ambientes acadêmicos (Comitê Deficiência e Acessibilidade da Associação Brasileira de Antropologia, 2020; Durban, 2022).Concordamos com Staples e Mehrotra (2016) quando afirmam que o trabalho de antropólogos(as) da deficiência é fortemente crítico da medicalização da deficiência da mesma maneira que os(as) antropólogos(as) da saúde 3 tendem a assumir uma abordagem crítica para a medicalização do corpo e da subjetividade. No entanto, os autores consideram que os interesses destes últimos, embora sejam, do ponto de vista cultural, relativos em seu enquadramento, são em doenças e processos de adoecimento. Percebe-se, ainda, que esses interesses se cruzam bastante com os estudos da deficiência, mas o trabalho de Staples e Mehrotra (2016, p. 39, tradução nossa) é bem elucidativo em apontar que há uma distinção importante entre os dois campos porque "os estados corporais que, em certos contextos, sustentam a deficiência, não necessariamente definem indivíduos como doentes ou em processo de adoecimento".É verdade que muitas pesquisas sobre deficiência foram produzidas no âmbito mais específico da antropologia médica. Alguns anos atrás, as estudiosas norte-americanas Ginsburg e Rapp (2013), em texto específico sobre os estudos da deficiência no âmbito internacional, já diagnosticaram que esse campo de análise ficou por muito tempo intelectualmente segregado, clamando, então, para uma atenção transversal à deficiência nas pesquisas antropológicas.