Este estudo pretende (a) compreender as associações entre conciliação trabalho-família e a vivência satisfatória e/ou stressante da parentalidade, (b) analisar a variabilidade destas associações em função do sexo da figura parental, e (c) testar o papel moderador da vinculação romântica nestas associações. Recolheram-se, transversalmente, dados de 346 participantes (173 homens e 173 mulheres) que responderam a instrumentos de autorrelato, designadamente, a Work-Family Conflict Scale, a WorkFamily Enrichment Scale, a Parental Stress Scale e a Experiences in Close Relationship Scale. Foram encontradas diferenças na satisfação parental, sendo significativamente mais elevada nas mulheres do que nos homens. Encontraram-se igualmente diferenças em função do sexo na predição dos efeitos do conflito e enriquecimento trabalho-família sobre as dimensões de satisfação e stress parentais. O papel moderador da vinculação romântica na relação entre enriquecimento/conflito e satisfação/stress parentais não se verificou, embora o evitamento prediga negativamente a satisfação parental nos homens.
Palavras-chave:Interface trabalho-família, Vinculação ao par romântico, Satisfação parental, Stress parental, Sexo, Género.
Interface trabalho-famíliaAtualmente, assiste-se a um esbatimento das fronteiras entre trabalho e família (Voydanoff, 2004), fruto de mudanças económicas, sociais e demográficas, que resultaram no aumento da participação feminina no mercado de trabalho (INE, 2012;INE PORDATA, 2016), assim como no aumento da exigência e competitividade laborais (Lima & Neves, 2011). Em particular em Portugal, o subsequente aumento das famílias de duplo-emprego, especialmente as que têm filhos em idade pré-escolar (INE, 2012), tem posto em evidência a necessidade de se aumentar o conhecimento científico no âmbito da interface trabalho-família.De um modo geral, a literatura tem-se centrado na forma como a coexistência de múltiplos papéis -especialmente o trabalho e a família -pode ser fonte de conflito (e.g., Goode, 1960;Greenhaus & Beutell, 1985) e/ou de enriquecimento (e.g., Greenhaus & Powell, 2006). A abordagem mais estudada tem sido a do conflito, definida como "uma forma de conflito inter--papel em que as pressões associadas aos papéis do domínio do trabalho e aos papéis do domínio da família são mutuamente incompatíveis" (Greenhaus & Beutell, 1985, p. 77), de tal forma que a participação num papel é percebida como mais difícil devido à participação no outro papel. De acordo com esta perspetiva os indivíduos dispõem de recursos psicológicos, energéticos e temporais limitados, que se revelam tanto mais insuficientes quantos mais forem os papéis
73Este estudo integra-se no projeto PTDC/MHC-CED/5218/2012, financiado pelo FEDER, através do programa COMPETE e por fundos nacionais através da FCT. A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: