RESUMO -Objetivo -Revisar a importância da resistência insulínica no desenvolvimento da hepatite C crônica e sua interferência na resposta ao tratamento antiviral de pacientes infectados pelo vírus da hepatite C. Fonte de dados -Revisão bibliográfica de trabalhos publicados pelo MEDLINE e dados dos próprios autores. Síntese de dados -Nos últimos anos, grande número de publicações tem demonstrado importante associação entre resistência insulínica e hepatite C crônica. Aumento na prevalência de diabetes mellitus tipo 2, desenvolvimento de esteatose hepática (principalmente nos pacientes com infecção pelo genótipo não-3), progressão mais rápida da doença e redução na taxa de resposta virológica sustentada ao tratamento com interferon peguilado e ribavirina, têm sido todos associados à presença de resistência insulínica nos pacientes infectados pelo vírus da hepatite C. A produção aumentada de fator de necrose tumoral pelo core do vírus da hepatite C é o principal mecanismo responsável pelo aparecimento da resistência insulínica. O fator de necrose tumoral afetaria a fosforilação do substrato do receptor de insulina diminuindo a captação de glicose e acarretando hiperinsulinemia compensatória. Aumento da siderose hepática e alterações dos níveis circulantes das adipocitocinas podem ter efeito adicional sobre a sensibilidade à insulina na hepatite C crônica. Conclusões -O diagnóstico e o tratamento da resistência insulínica nesses pacientes podem não só evitar o aparecimento das complicações, mas também prevenir a progressão da doença e, possivelmente, aumentar a taxa de resposta virológica sustentada ao tratamento com interferon peguilado e ribavirina. DESCRITORES -Hepatite C crônica. Fígado gorduroso. Cirrose hepática. Resistência à insulina. Diabetes mellitus tipo 2. Interferons.A resistência à ação da insulina tem papel fundamental no aparecimento da síndrome metabólica. No tecido periférico dependente de insulina, ocorre um defeito intracelular pós-receptor na sinalização da insulina (Figura 1). Há bloqueio na fosforilação em tirosina dos substratos protéicos dos receptores de insulina (IRS), o que impede a transativação do GLUT 4 e, conseqüentemente, a entrada da glicose para o interior da célula. Isso faz com que maiores quantidades de insulina sejam secretadas pelas células β pancreáticas, criando um estado de hiperinsulinemia compensatória. Esse excesso de insulina resultante consegue, durante certo tempo, manter a glicemia dentro dos níveis da normalidade, mas acaba determinando importantes alterações em todo organismo. A mais conhecida é a extensiva deposição centrípeta da gordura corporal, conhecida como obesidade central ou visceral, onde ocorre grande aumento da gordura abdominal, em detrimento dos membros. Outros efeitos incluem o aumento da pressão arterial e dos níveis séricos de triglicérides e redução dos valores de HDL colesterol, com ou sem hiperglicemia. A presença de três ou mais dessas manifestações caracteriza a síndrome metabólica ou síndrome de resistência insulínica (64,72) .O estudo da re...