“…O equívoco mais importante, se é que se pode falar assim, em segundo lugar, tomando como exemplo a maioria dos governos da onda rosa latino-americana do início do século, em especial os do Partido dos Trabalhadores, no Brasil, foi desconsiderar completamente questões fundamentais para a caracterização da classe trabalhadora no atual estágio de desenvolvimento capitalista. Não é possível desenvolver o tema em toda a sua complexidade aqui (vide BOLAÑO, 2018), mas dois motivos são fundamentais: a reestruturação produtiva e as décadas de políticas neoliberais, que transformaram radicalmente as feições da classe trabalhadora e são marcadas por dois processos conectados, de intelectualização e subsunção do trabalho intelectual (BOLAÑO, 1995;2002), de um lado, e de precarização, de outro, nem sempre bem compreendidos, para dizer o mínimo, pelas lideranças políticas e intelectuais, umas e outros tragados, desde os anos 1980, por duas ondas que constituem um terceiro motivo fundamental, qual seja, a deriva neoliberal de uns e o revisionismo de outros, que levaram ao desprezo pela problemática do fator subjetivo, embalados pelas ilusões do determinismo tecnológico e das infiltrações pós-modernistas que minaram boa parte do pensamento de esquerda durante todos esses anos.…”