A incidência de relacionamentos abusivos que resultam em feminicídios é alarmante no Brasil. Apesar disso, é recorrente a culpabilização das mulheres que estão nesse tipo de relacionamento. Esse processo de julgamento de uma vítima de violência pode ser compreendido à luz da Teoria do Mundo Justo. Essa teoria postula que as pessoas têm o que merecem e merecem o que têm, de modo a avaliar os acontecimentos com base em razões boas e compreensíveis. Nessa perspectiva, o objetivo da presente pesquisa foi investigar a influência das crenças no mundo justo (CMJ) na culpabilização das vítimas que permanecem, em decorrência de diferentes tipos de dependência, dentro de um relacionamento abusivo. Participaram 243 pessoas que responderam à Escala Global de CMJ, avaliaram a responsabilidade de uma vítima de feminicídio e informaram seus dados sociodemográficos. Os participantes eram distribuídos em 3 condições experimentais distintas (tipo de dependência): i) financeira; ii) afetiva; iii) saída da relação. Verificou-se que vítimas que permanecem em uma relação por uma dependência emocional são mais responsabilizadas que vítimas com dependência financeira e do que vítimas que saíram da relação abusiva (F(2,240)=15,15, p0,001, η²p = 0,11). Além disso, identificou-se que a CMJ exerceu um efeito no índice de responsabilização de todos os tipos de vítimas, indicando a relevância do construto na compreensão dos processos de responsabilização de mulheres em relacionamentos abusivos. Cabe citar que a CMJ têm sido um preditor da culpabilização da vítima. Os achados da presente pesquisa se somam a esse conjunto de estudos anteriores ao apresentar evidências do seu poder preditivos para a análise da permanência em relações abusivas