Intoxicação por vitamina D em paciente idosa: relato de caso

Abstract

Com a progressão do envelhecimento e, consequentemente, o aumento de doenças crônicas, como osteoporose e osteopenia, a suplementação da vitamina D (colecalciferol) tem sido rotineiramente prescrita, no entanto o uso indiscriminado e o não controle dessa reposição podem levar à intoxicação e, consequentemente, a alterações sistêmicas. Buscando conscientizar médicos prescritores, e principalmente pacientes idosos, o objetivo do relato do caso foi de alertar sobre o uso desregrado e divulgar os diversos sintomas sistêmicos, além dos danos dessa intoxicação, como hipercalcemia e lesão renal. Este relato trata do caso de uma idosa que afirmava usar fórmula contendo colecalciferol há dez anos para tratar osteoartrite. Chegou ao hospital com emagrecimento, lesão renal aguda e hipercalcemia. Após descartar doenças neoplásicas, foi diagnosticada com intoxicação de vitamina D. Feito tratamento, houve remissão sintomatológica e laboratorial. Com base nesse relato, concluímos que o geriatra tem um papel fundamental de desmistificar o uso de vitaminas e prescrever estritamente quando há indicação médica.

Vitamina D: toxicidade e importância do acompanhamento na suplementação

“…Doses a partir de 7 mil UI são tarjados, contudo não exigem retenção de receita, então da mesma maneira conseguem ser comprados com facilidade na maioria das drogarias 3,4 . No relato de caso de Amorim et al 10 , o paciente utilizou por mais de dez anos um medicamento que consistia em vitamina D 2 mil UI, para ser tomada uma vez por dia, que conseguiu adquirir sem restrições.…”

“…A vitamina D está diretamente relacionada ao controle do metabolismo de cálcio e fósforo 1,2,11 ; assim, o aumento dos níveis de vitamina D eleva a absorção intestinal de cálcio, causando uma hipercalcemia, principal sinal da toxicidade da vitamina D, que pode se apresentar clinicamente como assintomático ou até mesmo com sintomas graves, como insuficiência renal 3,4,10,13,14 . O excesso de cálcio provoca inúmeros efeitos no organismo, principalmente de forma prolongada, tendo consequências gastrointestinais, neurológicas e principalmente afetando a função renal, o que causa sintomas como náuseas, vômitos e anorexia 4,6,10,11,13 . Outro sintoma recorrente é o estado mental alterado, causando confusão, psicose, inconsciência profunda ou até coma 4,10,11,12,13 .…”

“…Devido a esse aumento da suplementação, condições clínicas que envolvem intoxicação por vitamina D têm se tornado cada vez mais frequente, contudo, por seus sintomas serem inespecíficos, a identificação é mais difícil, sempre sugerindo outras hipóteses diagnósticas 3,10 . A toxicidade aguda do hormônio é geralmente causada por doses acima de 10 mil unidades internacionais por dia (UI/dia), o que resulta em concentrações séricas de vitamina D maiores que 150 ng/mL, e a toxicidade crônica pode surgir com o uso de doses acima de 4 mil UI/dia ao longo dos anos, resultando em concentrações na faixa de 50-150 ng/mL 4 .…”

“…A toxicidade por vitamina D é amplamente relacionada à hipercalcemia e a complicações renais, com sintomas neuropsíquicos como confusão e psicose assim como sintomas gastrointestinais como dor abdominal, vômito, constipação, entre outros 10,11 . Esse quadro pode acarretar distúrbios metabólicos que, se não tratados de forma adequada, podem levar o indivíduo a óbito 1,11 .…”

O Uso de Vitamina D no Contexto da Pandemia da COVID-19

“…O aumento do uso indiscriminado, somado à falta de conhecimento dos pacientes acerca da dosagem segura da vitamina contribui para o aumento dos casos de intoxicação (TAYLOR; DAVIES, 2018). Apesar do pequeno volume de relatos, há uma relação entre o diagnóstico de hipervitaminose D quando um caso de hipercalcemia não é solucionado (MARINS et al, 2014).…”