RESUMO -É feita avaliação crítica sobre as diretrizes atuais e consequências da manobra de hiperventilação (MHV) na prevenção e tratamento da hipertensão intracraniana (HIC) que segue aos traumatismos crânio-encefálicos (TCE) graves. O uso profilático da MHV deve ser evitado na fase aguda de TCE grave, a menos que se registrem altos valores de O 2 no sangue venoso medido no bulbo jugular, ou para ganhar tempo quando o paciente apresenta evidentes sinais posturais de deterioração neurológica. A falta de resposta cerebrovascular à MHV para baixar a HIC significa que a barreira hemato-encefálica (BHE) está difusamente lesada. Então, a MHV pode ser utilizada como um crivo nos TCE graves, uma vez que a lesão da BHE atesta que os demais tratamentos disponíveis para combater a HIC (sedação, paralisia e diuréticos osmóticos) não funcionarão. Uma nova hipótese patogênica do edema encefálico traumático e abordagem terapêutica é apresentada.PALAVRAS-CHAVE: traumatismo crânio-encefálico, terapêutica, fisiopatogenia, hiperventilação.
Uses and abuses of the hyperventilation in severe traumatic brain injuryABSTRACT -A critical evaluatin was done about the guidelines and effects of the hyperventilation maneuver on prevention and treatment of increased intracranial pressure (ICP) that follows severe traumatic brain injury (TBI). The prophylatic use of hyperventilation should be avoided after severe TBI acute phase, unless high venous O 2 values are recorded at jugular bulb blood (SjO 2 ), or to allow time when there are evidences of neurologic deterioration with posturing. The lack of cerebrovascular response to hyperventilation to low the ICP means that the blood brain barrier (BBB) function is extensively impaired. Then, hyperventilacion may be used as a screening therapeutic test in acute severe TBI, since BBB impairment is the pointer that other available clinical procedures for high ICP control (sedation, paralysis and osmotic diuretics) are not workable. A new pathogenetic hypothesis about traumatic brain edema and its therapeutic approach is presented.KEY WORDS: head injury, therapy, hyperventilation, pathophysiology.Após o projeto do Banco Nacional de Dados dos Comas Traumáticos nos Estados Unidos da América (EUA), 1983, se seguiram recomendações de hiperventilação precoce e agressiva na prevenção e tratamento da hipertensão intracraniana (HIC) aguda pós-traumática. Posteriormente, a análise dos resultados dos protocolos de tratamento dos traumatismos crânio-encefálico (TCE) graves realizados nos centros de atendimento especializados nos EUA e Europa não se notou qualquer benefício da manobra de hiperventilação (MHV) profilática e terapêutica no prognóstico vital e funcional desses pacientes.Com a hipótese que o abuso generalizado e indiscriminado do uso da MHV nos protocolos de tratamento seguidos nos últimos 30 anos contribuiu para o malogro dos resultados das terapias adotadas nos TCE graves, resolveu-se revisar, criticar e divulgar as evidências científicas atuais sobre os efeitos da MHV sobre o metabolismo, mecanism...