A educação brasileira sempre esteve em pauta nos debates políticos e nos estudos acadêmicos, e é apontada como espaço/tempo no qual persistem históricas desigualdades sociais e raciais. Essa realidade interfere diretamente nas trajetórias escolares prolongadas, no acesso e na permanência no ensino superior. Neste texto trabalhamos com estudantes que tiveram acesso à universidade pública com o advento das políticas institucionais e governamentais afirmativas e de inclusão social implantadas nos primeiros anos deste século. O estudo teve por objetivo conhecer trajetórias de escolarização e percursos biográficos de universitárias oriundas de famílias pobres, egressas de escolas públicas e autodeclaradas afrodescendentes, segmento sub-representado em instituições de ensino superior, caracterizado como um território branco. Numa perspectiva interdisciplinar, que preconiza a interação entre duas ou mais disciplinas, e torna possível a complementaridade dos conceitos, são debatidos a justiça social, a justiça cognitiva e a interseccionalidade. A investigação teve delineamento qualitativo, pautou-se em estudo de casos múltiplos como estratégia de pesquisa, e utilizou questionários sociodemográficos e entrevistas reflexivas. A análise dos resultados destaca as contradições vivenciadas na universidade, as dificuldades relacionadas aos processos de permanência e de afiliação estudantil, e a mobilização das universitárias para a conquista de espaços e visibilidade nos respectivos cursos. As políticas afirmativas impactam a produção acadêmica porque essas “novas estudantes” trazem uma diversidade de conhecimentos e distintas questões que demandam outros diálogos com o saber hegemônico.