RESUMO -Esse estudo, de natureza qualitativa, fundamentado pelo arcabouço teórico e metodológico dos estudos de fala-em-interação social em contextos institucionais (Drew; Heritage, 1992) e pela Análise de Categorias de Pertença (ACP) (Sacks, 1992;Sell;Ostermann, 2009) discute, por meio da análise sequencial de 200 interações telefônicas entre comunicantes e atendentes do serviço de emergência "190", como os participantes se engajam na coconstrução de accounts narrativos enquanto negociam a prestação do serviço. Partimos do pressuposto de que as narrativas não são pacotes ordenados, coesos e cuidadosamente organizados em sua temporalidade e cronologia (De Fina, 2009). Ao contrário disso, entendemos que toda narrativa se insere em um contexto único de produção e é localmente coconstruída, turno após turno, na interação. Dentro dessa perspectiva, os interlocutores não se orientam para a história narrada apenas como uma unidade discursiva, mas também para o que está sendo feito por meio dela (Schegloff, 1997). Os dados aqui investigados revelam que os comunicantes (entendidos como aqueles que ligam para o 190), ao descreverem suas ações e as de seus agressores, realizam determinadas categorizações que, por sua vez: (1) constroem uma relação de antagonismo entre as partes; e, (2) evidenciam conhecimentos socialmente compartilhados do que constitui um evento moralmente sancionável (Bergmann, 1998), que são os fatores que garantirão a prestação do serviço pelo 190.Palavras-chave: análise de categorias de pertença (acp), accounts narrativos, ligações de emergência, fala-em-interação, fala institucional.ABSTRACT -By means of the analysis of two hundred telephone emergency calls between callers and call takers at a police service (190), this study, taking a qualitative perspective of talk-in-interaction in institutional contexts (Drew; Heritage, 1992) and of Membership Categorization Analysis (MCA) (Sacks, 1992;Sell;Ostermann, 2009), investigates the participants' co-construction of narrative accounts while negotiating the service to be provided. Following De Fina (2009), we assume that narratives are not coherent and ordered packages, carefully organized in terms of timing and chronology. On the contrary, we take the stance that each narrative is locally and sequentially co-constructed during the interaction. From this perspective, interlocutors do not merely orient to the narrative as a discursive unit, but also to what is being done by means of such narrative (Schegloff, 1997). Our data imparts callers' sequential orientation to the production of certain membership categories when describing their own actions and their violators'. Such categorization process reveals both (1) an antagonistic relationship between callers and violators and (2) shared knowledge of the morally loaded events (Bergmann, 1998). These two factors guarantee the dispatch of a police car. "Eu não aguento mais!": a produção de accounts narrativos nas ligações para o serviço de emergência da Brigada Militar (190) serviço seja prestado, é necessá...