RESUMOObjetivo: Dimensionar a contribuição de características de grupos familiares de usuários de crack tanto em situações de consumo quanto na promoção da cessação do uso da substân-cia. Métodos: Estudo observacional, transversal, misto, com delineamento quantitativo (estatísticas descritiva e analítica, por regressão de Poisson robusta) e qualitativo (análise temáti-ca de conteúdos de entrevistas individuais semiestruturadas). Resultados: Foram analisados dados oriundos de entrevistas com 519 usuários de crack, dos quais 48,3% referiram já ter feito uso compartilhado com algum familiar. A relação mais referida para compartilhamento do crack foi a conjugal, indicada por 30,6% dos entrevistados. A estimativa das razões de prevalência do desfecho abstinência na data da entrevista, por regressão de Poisson robusta controlada para fatores de confusão, para usuários de crack que referiram uso compartilhado com irmãos, foi de 0,940 (IC95%: 0,885-0,999; p = 0,045), tendo os que não referiram como referência. Na dimensão qualitativa, 20 entrevistados expuseram livremente modalidades de envolvimento dos familiares com o uso da droga, alguns indicando oposição ao consumo, outros estímulo, ou oferta, além da influência recíproca entre consumo de crack e conflitos familiares ou um ambiente considerado negativo. Além disso, os entrevistados que informaram ter familiares em tratamento em saúde mental tiveram 9% mais probabilidade de estar em uso cessado por 12 semanas ou mais (RP = 1,09; IC95%: 1,03-1,15; p = 0,005). Conclusão: Os grupos familiares aparecem não somente como fator de proteção, mas também como importante fator de risco para o uso do crack, e sua inclusão como grupo primário de atendimento se justifica com essas evidências.
ABSTRACTObjective: This paper aims to study the contributions of families of crack users on promoting both consumption and cessation of consumption of this substance. Methods: A cross-sectional, mixed study with a quantitative design (descriptive and analytical statistics, by robust Poisson regression) and a qualitative design (thematic content analysis). Results: Among 519 crack users interviewed 48.3% reported having shared crack cocaine with some family member. The more expressive occurrence of sharing was for marital relations indicated by 30.6% of respondents. The estimated prevalence rates of the outcome crack usage stopped for more than 12 weeks, by robust Poisson regression controlling for confounding