We are instruments of our instruments. And we are necessarily susceptible to the particular ills that result from our prowess in the ways of symbolicity. Yet, too, we are equiped in principle to join in the enjoying of all such quandaries, until the last time.Kenneth Burke (1984Burke ( [1966:viii) "Este boi bonito não deve morrer, porque só nasceu para conviver". Cantiga do Reisado do bumba-meu-boi.Sílvio Romero (1954:350) Um boi-artefato, que baila, morre e ressuscita, é foco de brincadeiras pelo país afora: 'Boi-Bumbá', no Amazonas e no Pará; 'Bumba-meu-boi', no Maranhão; 'Boi-calemba', no Rio Grande do Norte; 'Bumba-de-reis' ou 'Reis-de-boi', no Espírito Santo; 'Boi-pintadinho', no Rio de Janeiro; 'Boi-de-mamão', em Santa Catarina, entre outros. Para além da diversidade regional expressa nessas denominações, o conjunto de variantes da "brincadeira do boi" é heterogêneo e vital 1 . Este texto indaga sobre a presença e o sentido de processos míticos na brincadeira, em uma abordagem de inspiração estruturalista (Lévi-Strauss 1967, 1976, 1993Leach 1969; DaMatta 1973 DaMatta , 1979. Tarefa intrincada, pois é preciso inicialmente relativizar a renitente idéia, proposta pela bibliografia, de que o folguedo do boi corresponderia, ou teria correspondido em suas supostas origens, à encenação de um auto. Como argumento, o "auto" é sobretudo a crença dos pesquisadores no auto, em uma notável cristalização do efeito de ilusão do arcaísmo, característico dos estudos folclóricos e também antropológicos da cultura popular, tão bem examinado por Belmont (1986). A primeira parte deste texto busca, assim, situar em novos termos o