Na Literatura Comparada as relações entre autores e obras não partem da dicotomia original-cópia, isso porque assim como a função do autor e o próprio fazer artístico foi sendo modificado ao longo dos tempos, a maneira como a escrita e a leitura estão correlacionadas passou por uma reavaliação. Dessa forma, a criação textual é entendida como dependente do trânsito em bibliotecas alheias que possibilita que os elementos textuais sejam apropriados e ressignificados dentro do novo contexto de produção. Assim, o presente trabalho, realizado mediante a metodologia qualitativa de cunho bibliográfico de Literatura Comparada, tem como objetivo discutir a apropriação da imagem autoral de Jorge Luís Borges pelo autor Antônio Fernando Borges no conto Com toda certeza, quem sabe. Foram utilizados como suporte teórico os estudos de Namorato (2011), Bakhtin (2022), Jobim (2020), dentre outros. Teve como resultado a compreensão de que mediante a inserção na biblioteca alheia, um autor-leitor pode ser classificado como antropófago literário, uma vez que realiza processos de deglutição do alimento artístico de seu antecessor para construir sua escrita, sendo esta distinta e, ao mesmo tempo, próxima da outra por questões estéticas e autorais. Ante a isso, concluiu-se que ao retomar as técnicas de escrita borgeana, como é o caso da (auto) ficcionalização, Antônio Fernando Borges se insere na literatura como um autor-leitor que Jorge Luis Borges e também como propagador da ecoante voz literária do autor argentino.