RESUMOEmbora a morte seja constante no hospital, cuidar da pessoa na finitude da vida desvela sofrimento, culpa e impotência diante da morte. Realizou-se um estudo fenomenológico com objetivo de analisar a vivência dos cuidados dos enfermeiros à pessoa na finitude da vida em relação à tríade trágica. Foram entrevistados 14 enfermeiros de um hospital geral de ensino. A coleta dos depoimentos foi realizada por meio de entrevista fenomenológica, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. A análise fenomenológica guiou esse processo, passando pelas etapas de descrição, redução e compreensão e, como suporte teórico, recorreu-se à análise existencial. Como resultado emergiram 3 categorias: o sofrimento diante da morte no cotidiano do trabalho, a culpa e a impotência diante da morte do outro e o temor vivenciado diante da finitude da vida. Os depoimentos revelaram que o sofrimento é vivenciado não só pelo paciente e seus familiares, mas pelos profissionais da saúde, principalmente os enfermeiros que estabelecem vínculo afetivo com eles ao longo da internação. Diante da morte emergiram culpa e impotência na prestação de cuidados e a busca de um cuidado de qualidade diante das condições de trabalho e da pessoa em processo de morte.Palavra-chaves: Enfermeiro. Cuidados de enfermagem. Morte. Pesquisa qualitativa.
INTRODUÇÃOEste artigo versa sobre a tese de doutorado intitulada Sentido da vida: vivências dos cuidados de enfermeiros à pessoa na finitude da vida. O tema inspirou-se na vivência da autora, como enfermeira e docente, no cuidado às pessoas em situações críticas e crônicas internadas no hospital, que envolvem a terminalidade humana e estão presentes no dia a dia do enfermeiro, dos pacientes e dos familiares.A tríade trágica é composta por sofrimento, culpa e morte. É possível transformar o sofrimento numa conquista e numa realização humana. Extrair da culpa a oportunidade de mudar-se para melhor. Fazer da transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações responsáveis (1) . O homem como ser no mundo ou sendo no mundo compreende o mundo muito além do espaço geográfico que ocupa e ao qual pertence. Sendo no mundo corresponde às diferentes maneiras que o homem vive e aos modos das relações com os entes (2) . A análise existencial focaliza a luta do homem pelo sentido, não apenas do sofrimento, mas também da vida. Tem demonstrado que o sofrimento tem um sentido e que, além do sofrimento, o destino, a culpa e a morte fazem parte da vida. Ninguém conseguirá evitar o confronto com o sofrimento inarredável, a culpa insuperável e a morte inevitável (3) . No hospital, o contato com a possibilidade ou a ocorrência da morte é constante. Quando pensamos na morte, relacionamos ao sentido da vida, e isso se dá com muito sofrimento. Na unidade de pacientes de longa permanência e na clínica médica, o contato com a morte e o morrer é uma rotina, o que nos leva a experimentar uma sensação de vazio, medo e fracasso.Tais sensações reproduzem bem a realidade comum nas organizações hospitalares em relação à complexidade das sit...