RESUMOPesquisa qualitativa, descritiva, que objetivou analisar a subjetividade dos trabalhadores de enfermagem na prática de adaptar e improvisar materiais.Os participantes foram 20 trabalhadores de enfermagem de um hospital público universitário. O instrumento de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada, submetendo-se os dados à análise de conteúdo. Os resultados evidenciaram insatisfação dos profissionais de enfermagem diante da necessidade de trabalhar em meio aos improvisos e adaptações, que surgem como táticas para minimizar a precarização das condições laborais, fruto de uma ideologia defensiva dos trabalhadores de enfermagem ante as adversidades do meio laboral. Conclui-se que as adaptações e improvisações desgastam os trabalhadores de enfermagem, repercutindo diretamente na qualidade de vida.
INTRODUÇÃOO objeto deste estudo foi a subjetividade dos profissionais de enfermagem diante da execução cotidiana da adaptação e improvisação de materiais no ambiente hospitalar.Este objeto emergiu da vivência como docentes de enfermagem em uma universidade pública do Rio de Janeiro, onde se observaram empiricamente inúmeras cenas em que, mediante a escassez e/ou a inadequação de recursos materiais, os profissionais de enfermagem realizavam improvisações e adaptações diversas, submetendo-se, muitas vezes, a situações que poderiam gerar ou potencializar riscos laborais e colocar em perigo a segurança do paciente.O trabalho nos hospitais públicos vem sendo marcado por intensa insuficiência de insumos. Esta insólita situação passa por injunções políticas, econômicas, entre outros determinantes, todos fortemente vinculados às políticas dirigidas ao enxugamento da máquina pública (1,2) , a qual gera precarização das condições de trabalho, o que exige dos profissionais da saúde, além da polivalência, o desenvolvimento de suas capacidades adaptativas no intuito de sobreviverem às condições indignas de trabalho (3)(4)(5) . A falta, a escassez ou a inadequação dos recursos materiais impelem os trabalhadores, principalmente da enfermagem, a realizarem adaptações nos insumos disponíveis, a fim de garantirem que o cuidado seja prestado. Diante desta situação, incidem, pelo menos, duas problemáticas. A primeira configura-se na necessidade de utilizaçãodas capacidades psicocognitivas e motoras dos trabalhadores, continuamente e sob condições de pressão, com o fito de assegurar o desenvolvimentoda assistência, o que resulta em desgaste psicofísico do trabalhador e na vulnerabilidade para o adoecimento. A segunda problemática envolve a qualidade das adaptações e improvisaçõesrealizadas, considerando a ameaça à segurança dos pacientes e dos trabalhadores, uma vez que elas são realizadas em condições adversas e