Lutas simbólicas e <i>doxa</i>: jornalistas e acadêmicos no caso da \'lista dos improdutivos\' da USP

Jornalismo de educação: instâncias de consagração e estratégias e uma elite profissional

“…Na época, o jornal possuía credibilidade e força simbólicaadvindas da adesão às campanhas pelo fim da ditadura militar e pelas eleições diretas, de uma série de reformas e padronizações do texto, da utilização de dados nas reportagens e pela aproximação com produtores culturais -, chegando a colocar-se como um concorrente cultural da universidade. O entendimento do conteúdo das matérias, reportagens e artigos de opinião, ao mesmo tempo, só se deu ao ser relacionado com as lutas internas dos grupos jornalistas da Folha e acadêmicos favoráveis e contrários a medir e quantificar suas produçõesno interior do espaço jornalístico e do campo acadêmico do final dos anos 1980 (CHIARAMONTE, 2015;HEY, 2018).…”

“…Outra fonte de dinamismo no campo é a mudança da composição de classe dos novos agentes que estão tendo acesso a ele (Ibid.). O conflito entre "novos" e "velhos" no campo jornalístico brasileiro foi analisado por Bergamo (2011;, Chiaramonte (2015) e Moraes (2017) e será deslindado em item posterior nesse capítulo.…”

“…Assim, tal como já observado por autores como Hamilton (2004), no caso das TVs a cabo, o aumento da oferta para o público de canais de acesso à informação (no nosso caso, de jornais impressos), longe de incentivar, via aumento da concorrência, a busca por uma oferta de maior qualidade ou profundidade no tratamento da notíciao que, no caso da cobertura política, poderia se traduzir por um foco maior na investigação e um esforço maior de isenção, para não alienar diferentes correntes partidáriaspode, ao contrário, pressionar muito mais no sentido da oferta do que se poderia caracterizar como cobertura de nicho: um noticiário mais superficial, repetitivo e enviesado, para satisfazer supostas demandas prévias adquiridas por uma faixa de público mais limitada a que se prioriza satisfazer e preservar. Esses profissionais encarregados de chefiar a redação foram responsáveis, ao longo do processo recente de modernização da imprensa, pela implantação de métodos de organização racional e gestão das redações, como ilustra bem a instituição do Projeto Folha em meados da década de 1980 (CHIARAMONTE, 2015;HEY, 2018;SILVA, 1988). Contudo, não foi só o perfil dos dirigentes das redações que mudou.…”

“…A jornalista teve e tem, portanto, grande atuação em instituições sociais e do terceiro setor.de Brasília, correspondente em Nova York, colunista e membro do conselho editorial (de 1992 a 2013). Em parte do período que ficou na Folha, Dimenstein também foi colunista na rádio CBN.O jornalista fez parte do grupo de jovens profissionais da Folha de S.Paulo que a partir de meados dos anos 1980 deu cara nova ao veículo, instaurando um modo de fazer jornalismo calcado em valores como objetividade, apartidarismo, pluralismo e imparcialidade, que, misturados à certa pretensão cultural característica desse grupo, de alçar o jornal a concorrente de instituições públicas como a universidade, levou-o à promoção de uma série de denúncias contra instituições estatais, dentre as quais a publicação da "lista dos improdutivos" da USP, objeto de análise da minha dissertação de mestrado(CHIARAMONTE, 2015;HEY, 2018). Dimenstein ganhou reconhecimento profissional ao publicar, em 1987, uma série de reportagens sobre as verbas liberadas pelo então presidente José Sarney aos deputados de suas bases eleitorais a respeito de Gilberto Dimenstein, é interessante observar o encaixe entre o perfil do jornalista e as características requeridas e valorizadas pela Folha na época.…”