Nos últimos três meses do ano de 2012, analisei, ao lado do patriarca dos Baniwa-Hohodeni, Laureano Valência, centenas de artefatos recolhidos entre os mais diversos povos que compõem o mosaico étnico da região do alto rio Negro (ARN) -povos de origem Tukano, Arawak e Maku.1 Fazíamos isso a partir de fotografias que eu captara nos principais museus etnográ-ficos do Brasil.
2O trabalho na reserva técnica do Museu Paraense Emílio Goeldi, realizado em agosto daquele mesmo ano, deixara-me especialmente entusiasmado. Dentre os objetos fotografados, eu encontrara alguns dos poucos adornos rituais recolhidos entre os Baniwa, em toda a longa história do colecionismo rionegrino. Eles haviam sido coletados por Koch-Grünberg, no remoto ano de 1904, na mesma região onde mais de 100 anos depois, eu realizava meu trabalho de campo (Cf. Koch-Grünberg 2005:195-97).É conhecido na literatura etnográfica o fato de os índios do ARN partilharem um amplo conjunto de objetos, em um sistema de cultura material bastante uniforme, sobretudo quando se considera os chamados "índios do rio" -grupos arawak e tukano oriental.3 Os adornos são mencionados mais frequentemente em trabalhos escritos junto a clãs menos afetados pelas fortes pressões assimilacionistas que marcam a história da região desde os primeiros contatos com colonizadores, já no século XVII. Sabe-se, que os Baniwa utilizavam objetos semelhantes àqueles empregados por seus vizinhos tukano -como os Barasana, os Makuna e os Desana. Contudo, há poucas descrições de primeira mão feitas sobre estes artefatos a partir dos próprios Baniwa.