Foi com um profundo agrado que aceitamos prefaciar esta valiosa obra sobre a questão d´«As línguas africanas e o português na África lusófona: reflexões, descrições e políticas de ensino». Primeiro, porque, profissionalmente, estamos vinculados a esta área estudo; segundo, pelo honroso convite que os docentes Alexandre António Timbane e Raquel Meister Ko. Freitag nos fizeram para conceber este prefácio. Não nos conhecemos pessoalmente, conhecemo-los e admiramo-los pela sua vasta obra, pela suas experiências e conhecimentos em matéria das línguas africanas, que seguimos com muito interesse e que apoiam muitas das nossas pesquisas e reflexões. E isso torna ainda mais gratificante a nossa presença num dos seus trabalhos. Estamos-lhes muito gratas por isso.A temática do livro encerra, em si, muito interesse e expectativa e constituirá um relevante subsídio para os estudiosos da área das línguas. Merecem, pois, os nossos aplausos, os organizadores deste e-book e os autores dos vinte e quatro capítulos, pela relevância e pela actualidade dos temas sobre os quais se debruçam.O multilinguismo e as línguas africanas incitam sempre grande curiosidade e interesse, pela aura de secundarização a que muitas dessas línguas estão votadas. Particularmente nos países africanos de língua oficial portuguesa 1 , esta é uma realidade que prevalece e não deixa indiferentes muitos académicos, sobretudo os linguistas. Por isso, esta é uma matéria que tem merecido a sua atenção, mobilizando-os para um trabalho com vista ao resgate do seu papel social e da sua justa dignificação. Esta obra persegue essa senda.Distribuídos em três secções, especificamente os artigos do livro analisam questões sobre a coocorrência das línguas africanas com a língua oficial, sobre a nacionalização do português e sobre políticas e planeamento linguísticos. As políticas linguísticas constituem o principal recurso de inclusão das línguas africanas, mas, na maior parte dos casos _ referindo-nos aos países em questão _ estas línguas são excluídas ou, se incluídas, não são levadas em consideração na medida certa, constituindo esse o motivo da sua marginalização e de um certo desprestígio, concorrendo, até, para um certo preconceito linguístico em relação a elas. Referindo-nos, concretamente, às políticas de ensino (na perspectiva de línguas de ensino), é lamentável verificar que, quase cinco décadas após a conquista das independências, prevalece um paralelismo linguístico entre estes países, pois, em todos eles, assistiu-se à exclusão das línguas africanas como línguas de ensino. Davi Borges de Albuquerque e Júlio Mário Siga, no artigo, denunciam o sistema educativo da Guiné Bissau, no qual as crianças, ao ingressarem na escola, se confrontam com uma barreira linguística porque são sujeitas a uma língua de ensino que não coincide com a sua língua materna. Uma língua, enfim, que não dominam. Esta é uma realidade comum a todos os nossos países: o monolinguismo escolar, com o português como única língua de ensino, facto que tem um impacto negativo no ensino. Está prov...