IntroduçãoOs dois versos que propomos como epígrafes para esta refl exão funcionam como uma espécie de elo a atar os dois momentos histórico-literários -e, por conseguinte, as duas obras, objetos deste estudo, -sobre os quais lançaremos o nosso olhar. Em outra ocasião 3 , discutimos de que forma o termo "fascinação" poderia ser eleito para melhor descrever a relação entre o artista, desde o início da modernidade, e a cidade. O misto de atração e repulsa que está implícito no signifi cado do vocábulo, emerge desses versos de Baudelaire, que olha para a cidade de fi nais do século XIX com o olhar crítico daquele que a sabe como o repositório de todas as tensões de que a modernidade -e as novas relações de trabalho, de consumo e de produção que a caracterizam desde o seu surgimento -é agregadora e, ao mesmo tempo, a sabe, também, como fonte inesgotável de material poético.Questionar, assim, a representação da cidade moderna pela literatura contemporânea é, a par de observar de que forma o espaço urbano de hoje fornece temas e motiva formas para a literatura de hoje, compreender que há uma tradição construída desde o século XIX, quando da emergência dos primeiros centros urbanos, no que diz respeito a essa representação 1 Docente do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura e do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, Brasil. Membro do grupo de pesquisa "Realismo e realidade na fi cção brasileira contemporânea" (Cnpq/UFSCar). E-mail: rejane@ufscar.br 2 "De cada coisa, pois, extraí-lhe a quintessência/ Me deste a lama e transformei em ouro." 3 Trata-se do artigo "Arquitetura dos contrastes: uma leitura de Eles eram muitos cavalos" (Rocha, 2009).