Este editorial busca alertar sobre a importância de um quadro bastante negligenciado na clínica médica: os transtornos psiquiátricos pós-parto paternos, especialmente, a depressão. Fazemos uma breve revisão de publicações recentes, com ênfase nas de nosso grupo de pesquisa. Esse alerta é ainda mais importante para os gineco-obstetras, que concentram sua maior atenção sobre as mulheres. Nossos estudos dão suporte às recomendações atuais de incluir o pai nas consultas de pré-natal com o fim de estimular a formação de vínculos familiares saudáveis 1 . A depressão pós-parto (DPP) é tipicamente tratada como um problema exclusivo das mulheres e que ocorre, ao longo do primeiro ano de vida do filho, em 10 a 15% delas. Entretanto, os pais também passam por mudanças significativas após o nascimento da criança. Essas, em grande parte, se assemelham às que ocorrem com as mães. Ambos vivenciam transformações importantes no seu sentido de identidade pessoal, papéis familiares e sociais. Mudam, em especial, as relações interpessoais do casal e também as rotinas diárias . Nosso grupo realiza uma pesquisa longitudinal do desenvolvimento de famílias. Em sua primeira etapa, entrevistou, em suas casas, quatro meses após o nascimento, todas as famílias que tiveram filho em hospital público no ano de 1999, em um bairro de Porto Alegre. Encontramos uma frequência de suspeita de transtorno mental (medida pela escala SRQ-20) de 34,5% nas mulheres e 25,4% nos homens 5 . Ao contrário da grande quantidade de estudos publicados sobre os fatores ligados à depressão pós-parto materna (DPPM), pouco se sabe sobre o desenvolvimento de tais sintomas nos pais 2,3,7 . Estudos recentes relatam que teriam relação com diversos fatores biológicos (principalmente uma desregulação hormonal que ocorreria nos homens entre os últimos meses da gravidez da parceira e o primeiro ano do período pós-parto) e ambientais, como complicações da relação conjugal e dificuldade de formar uma ligação afetiva com o filho 6 . Não é infrequente que o homem demonstre mais dificuldade na formação do vínculo afetivo com o filho, comparado com a mulher, que tipicamente é socializada de forma a aprender a lidar com crianças e, além disso, apresenta taxas elevadas de ocitocina, hormônio reconhecidamente associado com a formação do vínculo mãe-criança. Há, também, a falta Trabalho realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS -Porto Alegre (RS), Brasil.