ResumoO perdão foi estudado através do Enright Forgiveness Inventory -EFI (versão em português) -em relação à intensidade da mágoa, aos afetos, aos julgamentos e aos comportamentos da vítima referentes ao ofensor. Verificou-se também se a cultura, o sexo, a idade e a religião influenciam o perdão. Participaram 200 brasileiros e 394 estadunidenses. Os resultados foram similares nas duas culturas: as pessoas perdoaram espontaneamente, mas não completamente. O perdão mostrou-se negativamente correlacionado com a intensidade da mágoa; foi oferecido em maior grau à família e aos amigos do que a estranhos e a colegas de trabalho; e as pessoas perdoaram mais pelos julgamentos do que pelos afetos. Não ocorreram diferenças quanto à religião, sexo ou idade. Futuros estudos devem verificar se ao perdoar completamente os afetos positivos pelo ofensor permanecem inferiores ou se igualam aos escores dos julgamentos positivos. Palavras-chave: Perdão interpessoal; Intensidade da mágoa; Atitude moral.
AbstractThe Enright Forgiveness Inventory -EFI (Portuguese version) was used to verify relationships between forgiveness and degree of injury to the agents of hurt and also the degree of affect, behavior and judgment from victims towards their offenders. It was also checked whether culture, gender, age and religion affect the act of forgiving. Two hundred Brazilians and 394 Americans participated in the study. Findings were similar for both cultures. Forgiveness was negatively related to the degree of injury. People forgive family and friends at a higher degree than they forgive strangers or co-workers. Positive judgments received significantly higher scores than positive affect. No significant effect was found for forgiveness regarding gender, age or religion. Future studies should verify whether genuine forgiveness shows positive affect for offenders at a same degree as positive judgments or affect remains always lower than judgment for forgiving. Ao longo da história da civilização, o perdão foi enfocado como uma estratégia política para a resolução de conflitos (Arendt, 1958(Arendt, /1998Digeser, 2001;McKnight, 2004;Nussbaum, 1998). Worthington (1998Worthington ( , 2005 informa que, no âmbito da psicologia, os estudos sobre o perdão são recentes. As publicações sobre o tema começa-ram a despontar em 1968 e mostraram um crescimento significativo durante as décadas de 1980 e 1990, permanecendo o interesse relativamente alto desde então.No terreno da psicologia, um campo de estudos sobre o perdão tem sido o das relações interpessoais. Nesse campo, o perdão é operacionalizado como uma atitude motivada pela compaixão e observado em suas implicações para o desenvolvimento moral e social. Neste sentido, encontram-se os estudos de Robert D. Enright, com um corpo teórico e metodológico coerentemente aplicado a pesquisas empíricas em diversas áreas: psicologia do desenvolvimento moral (Enright & The Human Development Study