Medicalização do sofrimento na cultura terapêutica: vulnerabilidade e normalidade inalcançável

Abstract

Este artigo parte do aumento recente do número de pessoas que recebem um diagnóstico psiquiátrico e tenta entender como a emergência de uma cultura terapêutica, na passagem da modernidade à contemporaneidade, contribuiu para esse crescimento. A hipótese a ser defendida é a de que as mudanças na cultura, ao determinarem transformações no entendimento da subjetividade, nas relações entre normal e patológico e nos próprios conceitos psiquiátricos, favorecem que mais pessoas se vejam como doentes. Seguindo uma intuição foucaultiana, analisamos aqui os efeitos que essas mudanças provocam na produção de saber a respeito dos indivíduos e os efeitos dos discursos produzidos sobre os sujeitos.

Uso de Psicofármacos por Usuários Acompanhados pela Estratégia Saúde da Família: Uma Reflexão Teórica

“…Além disso, as mudanças na cultura, ao determinarem transformações no entendimento da subjetividade, nas relações entre normal e patológico e nos próprios conceitos psiquiátricos, favorecem que mais pessoas se vejam como doentes (31) .…”

Prescription and Dispensing of Benzodiazepines in Times of the Covid-19 Pandemic in Brazil / Prescrição e dispensação de benzodiazepínicos em tempos de pandemia da covid-19 no brasil

“…4 The medicalization culture of suffering is something routine today, making people skip necessary experiences in their lives and camouflaging emotions that need to be felt and resigned. 26 This fact is the result of a society that is more and more immediatist, with no time and/or availability to experience suffering, seeing in medication, such as BDZ's, an alternative to not stop productivity. 21 However, it is also worth mentioning that, yes, there are people with a real need to use anxiolytics and the like, and this is a possible result, or not, of an immediatist society.…”

Aspectos controversos do conceito de necessidades de saúde e seus reflexos sobre a acessibilidade de medicamentos e serviços de saúde

“…O primeiro resultado obtido pelo estudo 17 constatou uma deficiência dos serviços de saúde oferecidos à população local e um grande número de diagnósticos superestimados e generalizados que priorizam uma terapêutica farmacológica 25 . Também se detectou a falta de orientação médica em relação ao medicamento prescrito e a prática de troca de receitas sem consultas médicas, o que contribui para perpetuar o uso de BDZs nessa população e contraria totalmente o propugnado na política racional de medicamentos.…”