Este trabalho tenta aproximar-se da complexidade inerente à interseção entre Saúde Mental, Gênero e Violência através do entrelaçamento de olhares advindos da Psicanálise, da Saúde Pública, da Sociologia e da Filosofia. A hipótese sustentada a partir desta articulação de saberes é que o não lugar da fala na Atenção Primária expressa-se como uma violência institucional que toca, principalmente, as mulheres. Neste sentido, traçam-se três teses que se articulam e se reforçam mutuamente: 1) Não há espaço para fala na Atenção Primária do SUS; 2) A mulher, por sua posição na história das sociedades do Ocidente, tem sido sobrecarregada de papéis, o que gera uma identidade que aprisiona e faz sofrer; 3) A violência contra a mulher vincula-se à lógica da dominação que se entranha nas regras, nos valores e nas ideias que estruturam as instituições públicas e privadas. Como proposta para lidar com os problemas levantados, advoga-se pela adoção de uma epistemologia e de uma ética capazes de superar dualismos rasos e os resquícios da dominação masculina que atravessa e molda a sociedade e as instituições de saúde.