A pesquisa a que se refere este artigo se propõe a mapear o "sujeito cerebral" na sociedade contemporânea. Chamamos de "sujeito cerebral" a figura antropológica que incorpora a crença de que os seres humanos são essencialmente reduzíveis aos seus cérebros. Nosso foco está nos discursos, nas imagens e nas práticas que podem ser globalmente designadas de "neurocultura". Das políticas públicas às artes, das neurociências à teologia, os humanos são geralmente tratados como reduzíveis a seus cérebros. A nova disciplina da neuroética é eminentemente sintomática dessa situação; outros exemplos podem ser tirados da ficção científica escrita e em filmes; de práticas como a "neuróbica" ou criopreservação cerebral; da neurofilosofia e das neurociências; de debates a respeito da vida e da morte cerebral; de práticas de tratamento intensivo, transplante de órgãos, e aprimoramentos e próteses neurológicas; das áreas emergentes da neuroestética, neuroteologia, neuroeconomia, neuroeducação, neuropsicanálise e outras. Este artigo traça a diversidade de neuroculturas e as coloca num contexto maior, caracterizado pela emergência de "bioidentidades" somáticas que substituem noções psicológicas e internalistas de identidade individual. Tal objetivo foi alcançado não somente através do exame de discursos e representações, mas também de práticas sociais concretas, como aquelas que se formam no movimento politicamente poderoso da "neurodiversidade", ou em disciplinas "neuroascéticas" do self, vigorosamente comercializadas.