Este artigo analisa como a difusão do padrão de governança centrado na busca de uma "competitividade urbana" tem levado o Estado a abandonar parte de suas funções tradicionais de gestão e planejamento urbano, transferindo-as para atores privados, o que constitui uma afirmação crescente da lógica do capital imobiliário sobre a estrutura das cidades e a vida de suas populações. Discutindo a evolução recente de três capitais brasileiras, Natal, São Paulo e Salvador, ele analisa os discursos e procedimentos que vêm sendo utilizados para justificar e legitimar esse novo padrão de governança, assim como destaca seus efeitos adversos em termos sociais, ambientais e urbanos. PALAVRAS-CHAVE: Metrópoles. Capital imobiliário. Desenvolvimento urbano.
INTRODUÇÃOEste trabalho se propõe a discutir como o capital imobiliário vem assumindo atualmente um novo protagonismo no desenvolvimento das grandes cidades brasileiras, a partir da análise da trajetória recente das cidades de Natal, São Paulo e Salvador. Ele se insere no debate sobre a nova ordem social e espacial que estaria sendo produzida pelas transformações contemporâneas do capitalismo nos grandes centros urbanos, debate que, no plano internacional, foi iniciado com as reflexões de autores como Sassen (1991), Veltz (1996), Borja e Castels (1997) ou Marcuse e Kempen (2000), e que tem se desdobrado em numerosas pesquisas sobre as metrópoles do Brasil e da América Latina.Tais pesquisas têm evidenciado que, embora quase todas essas cidades sejam, de alguma forma, afetadas pelas mencionadas transformações, seu envolvimento nelas depende da natureza e do alcance desse processo (que não é uniforme nem converge para um modelo único de cidade), e sua dinâmica é definida pela continuidade e pela mudança, já que o preexistente condiciona a emergência do novo, o qual, em muitos casos, já começara a se esboçar no passado (Mattos, 2004). Notadamente, isso vale para as estruturas urbanas, que, como ressalta Préteceille (2003), não podem ser interpretadas como um efeito direto das transformações recentes, pois constituem uma herança histórica dos efeitos de economia e da sociedade no longo prazo, o que se evidencia tanto nas estruturas materiais do espaço construído como nas formas sociais de valorização simbólica e de apropriação.Por isso mesmo, estudos efetuados sobre as grandes metrópoles do Brasil, do Chile, do Méxi-co, do Uruguai e da Argentina têm constatado uma relativa estabilidade de suas estruturas social e