Atualmente, duas importantes transformações que afetam o processo de ensino-aprendizagem estão em curso no campo da Arquitetura. O primeiro diz respeito à metodologia EaD (Ensino a Distância). A outra mudança é mais abrangente: a substituição do processo de projeto baseado em CAD (Computer Aided Design) para BIM (Building Information Modeling) pela Indústria da Construção. O BIM permite a construção de modelos virtuais a partir de objetos paramétricos aos quais são atreladas tantas informações quanto necessárias para a compreensão do projeto. Seu desenvolvimento vem provocando o surgimento de inúmeras ferramentas de comunicação entre os diversos envolvidos no processo de projeto. Existem inúmeras ferramentas que foram desenvolvidas pelo mercado com a intenção de proporcionar a interação entre os diferentes projetistas (GOMES et al., 2018; RUSCHEL et al., 2013; BRODESCHI, 2011; FERREIRA, 2007). Muitas outras sequer são registradas em artigos acadêmicos. Enquanto o ensino passa por dificuldades no desenvolvimento de instrumentos especiais para qualificar as suas práticas, o mercado conta com uma variedade de soluções para cada função. Um olhar atento pode descortinar oportunidades de adaptação e compartilhamento. Por isso, o objetivo deste trabalho é propor a aplicação de ferramentas para comunicação criadas em empresas da Construção Civil como apoio no ensino-aprendizagem de projeto na graduação EaD em Arquitetura com base em BIM.
Metodologicamente, expõe-se um exemplo de ferramenta que pode ser explorada no ensino. Ela representa um exemplo de outras que podem ser adaptadas do mercado para uso na academia. Então, explica-se o passo a passo de como seria aplicada a plataforma em disciplinas de projeto arquitetônico a distância. A ferramenta identificada como potencial para um primeiro estudo de caso (ainda não conduzido) consiste em um portal online desenvolvido pela Empresa A para a visualização dos seus relatórios de compatibilização de projetos com base no modelo BIM. Seu objetivo é concentrar informações, facilitar a comunicação e documentar as tomadas de decisão de projeto. A plataforma contém visualizador e espaço para interação mediante comentários. O acesso é via navegadores de internet, portanto não é necessário instalar qualquer software específico. Na graduação, especialmente na modalidade a distância, ela funcionaria como ponte entre professor e estudante. Sua implementação seguiria as seguintes etapas: (I) O antes: Sugere-se que seja feito um levantamento junto ao colegiado do curso sobre ferramentas BIM que podem ser adaptadas do mercado de trabalho para o ensino de projeto. (II) O durante: Escolhida a ferramenta, seguem-se os cinco passos apresentados a seguir. Aconselha-se que se aplique em turmas a partir da metade do curso. Passo 1: Formalização de convênio da instituição de ensino com a empresa; Passo 2: Empresa apresenta a ferramenta para os alunos e demonstra como ela é utilizada no processo de projeto real; Passo 3: Demonstração do professor sobre como a ferramenta será utilizada no exercício de projeto acadêmico; Passo 4: Projeto é desenvolvido ao longo do período mediado pelo professor através da ferramenta. Proposta de uso da ferramenta no ensino de projeto (em ciclos): 4.1 Alunos inserem suas propostas de projeto na plataforma usando formato BIM compatível; 4.2 Professor acessa o modelo via plataforma e faz os apontamentos necessários. É gerado automaticamente um relatório de apontamentos que é enviado para o aluno; 4.3 Alunos verificam os apontamentos e respondem com modificações e/ou dúvidas, argumentos ou comentários; Passo 5: Apresentação da Universidade para a Empresa com feedback sobre a ferramenta. (III) O depois: É primordial que seja descrita a experiência por meio de artigos científicos, reportagens, vídeos e outras mídias e que um novo ciclo seja retroalimentado pelas conclusões.
A crescente adoção de BIM em currículos de Arquitetura e Urbanismo é discutida por autores como Santos (2015) e Batistello et al. (2019). Analisando o perfil dos estudantes nativos digitais, o aumento do uso de BIM, as políticas nacionais para sua disseminação e a demanda por profissionais competentes, a inserção de BIM nos currículos encontra contexto favorável para promover discussões. No entanto, a sincronia entre o que se aprende na academia com aquilo que o mundo corporativo exige é inexistente. No âmbito da literatura em Educação, formas eficientes de provocar essa aproximação dos polos mesmo quando é inviável conciliar o trabalho técnico com a prática discente encontram-se no escopo das Metodologias Ativas (LOVATO et al., 2018), como a Aprendizagem por Experiência e a Educação Corporativa (BAYMA, 2004). Nóvoa (apud BOTO, 2018) defende que os percursos se deem em comunidades práticas de aprendizagem. Extrapolando essa recomendação, nesta proposta de projeto de ensino propõe-se o compartilhamento entre pares para além dos muros das universidades: que os professores e estudantes dos cursos superiores estejam lado a lado dos colegas que ocupam as mais variadas formas de atuação profissional no mercado de trabalho.
Apresentação no YouTube: https://youtu.be/kBek23J6AK8