Modelos de assistência obstétrica na Região Sul do Brasil e fatores associados

Abstract

Os objetivos do estudo foram identificar modelos de assistência obstétrica em gestantes de risco habitual na Região Sul do Brasil, estimar os fatores associados a esses modelos e os desfechos maternos e neonatais. Realizou-se estudo seccional a partir da pesquisa Nascer no Brasil, de base hospitalar, que envolveu puérperas e recém-nascidos. Foram identificadas 2.668 gestantes de risco habitual. Procedeu-se a uma análise exploratória, com a utilização da proporção de práticas por hospital, entre elas o desencadeamento do trabalho de parto, a presença de acompanhante, a cesárea e o contato pele a pele, para a obtenção de modelos de assistência obstétrica denominados Boas Práticas, Intervencionista I e Intervencionista II. Em seguida, realizou-se uma análise inferencial das características associadas. Os resultados mostraram que o acesso ao financiamento público ou privado, os fatores culturais e a atuação dos profissionais de saúde apresentaram associações com os modelos de assistência. A assistência pública apresentou diferentes contextos: um primeiro, alicerçado em políticas públicas e na prática baseada em evidência; um segundo, baseado na intencionalidade pelo parto vaginal, sem considerar os princípios de humanização. Já a assistência privada é padronizada e centrada no profissional médico, com maiores níveis de intervenção. Conclui-se que há predomínio dos modelos de assistência obstétrica intervencionistas na Região Sul do Brasil, uma assistência na contramão das melhores evidências, e que as mulheres assistidas em hospitais públicos possuem mais chance de serem beneficiadas com as boas práticas.

A inserção da enfermeira obstétrica na assistência hospitalar ao parto

“…Na categoria "cotidiano de conflitos", a dificuldade da própria equipe de Enfermagem em reconhecer a atuação da EO constata que o cenário hospitalar de assistência ao parto permanece impregnado pela histórica liderança médica, a qual está pautada tanto em fatores culturais como de gênero (5,(7)(8)(9) .…”

“…Em consonância com as diretrizes do Ministério da Saúde (MS), a maternidade do hospital em estudo, que atende exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde, reestruturou seu atendimento no ano de 2004, articulando todos os serviços envolvidos na assistência materno-infantil, seguindo a lógica de Linha de Cuidado. Desde então, diversas práticas relacionadas aos direitos da mulher e ao cuidado humanizado foram modificadas ou agregadas (4,5) .…”

Complicações puerperais em um modelo medicalizado de assistência ao parto

“…4 Por exemplo, estudo realizado na região Sul constatou que os modelos intervencionistas de assistência ao parto são predominantes e a assistência prestada não preconiza as melhores evidências científicas. 5 Assim, apesar de o parto ser um evento fisiológico, algumas complicações advêm, muitas vezes, das intervenções praticadas pela equipe de saúde durante o trabalho de parto e parto. Essas complicações podem provocar a busca por assistência no período pós-parto e interferem na volta da mulher às atividades normais cotidianas.…”

“…8 Outro estudo, realizado no mesmo município que o presente, verificou altos índices de cesariana e com tendência a aumento, 9 assim como em grande parte dos municípios brasileiros, 10 o que caracteriza o uso excessivo da tecnologia em torno do parto e um modelo de atenção obstétrica medicalizado. 5 Tendo em vista a importância de conhecer as complicações puerperais e sua possível relação com as diversas intervenções às quais as parturientes estão expostas, este estudo teve por objetivo analisar as complicações puerperais em mulheres atendidas para o parto pelo setor público de saúde e o modelo assistencial adotado.…”

“…Essas informações foram importantes para a definição do modelo assistencial adotado nos hospitais pesquisados, pois tais ações não caracterizam boas práticas em torno do nascimento e locais com alta prevalência desses procedimentos podem ser considerados como tendo um modelo assistencial intervencionista. 5 As complicações puerperais consideradas para análise de associação com as intervenções obstétricas foram aquelas indicativas de intercorrências na atenção hospitalar: febre; sangramento aumentado/hemorragia; sinais flogísticos em ferida operatória; infecção puerperal; necessidade de antimicrobiano, de hemotransfusão e de reinternação no pós-parto; complicações uterinas (atonia, hipotonia e necessidade de histerectomia); e complicações placentárias (retenção, necessidade de curagem ou curetagem após o parto).…”