Resumo Algumas vivências traumáticas podem suscitar alterações autoperceptivas, afetivas e cognitivas, comuns em casos procedentes dos contextos forense e clínico, o que denota a importância de verificar a origem motivadora dessas alterações. Esta revisão de literatura buscou identificar as variáveis compartilhadas e discrepantes do método de Rorschach nas avaliações de vítimas de abuso sexual e de pacientes com câncer e enfermidades do corpo. Com base no método Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), foram encontrados 11 artigos publicados entre 2008 e 2018, dos quais quatro concernem avaliações de vítimas de abuso sexual; seis, de pacientes com doenças do corpo; e um, de paciente com câncer. As variáveis compartilhadas foram: autopercepção (MOR), relacionamento interpessoal (PER, PHR, T, AG), afeto (SumC’, SumY) e ajuste perceptivo (FQ-). Vítimas de abuso sexual diferiram em: autopercepção (An), relacionamento interpessoal (GHR), ideação (m, PTI) e alguns conteúdos traumáticos (Bl e Sx). Pacientes com câncer e doenças do corpo diferenciaram-se em: relacionamento interpessoal (CDI, FD), afeto (CF+C > FC, SumV), ideação (Mp, WSum6, ALOG, DV, DR), processamento (Zd, DQv, PSV, Dd), mediação (P, S-, X-%, Xu%) e controle (D, AdjD, es). Os resultados indicam o protagonismo do corpo, da autopercepção prejudicada e de sentimentos depressivos e de ansiedade. Em vítimas de abuso sexual, o corpo sinaliza marcas de vivências traumáticas, enquanto em pacientes com câncer e outras doenças, o corpo denuncia sentimentos de angústia e de morte. Os resultados contribuem para auxiliar nas avaliações e intervenções psicológicas dirigidas a essa população.