Este artigo compara uma série de etnografias que descrevem processos de aparentamento entre índios e não índios nas terras baixas sul-americanas. Sugere-se que esses exemplos de “domesticação dos brancos”, tais como são chamados no artigo, são um caso do fenômeno mais geral de amansamento de estrangeiros e inimigos indígenas. Em todos os casos, visa-se “acostumar” um Outro e, nele, causar uma alotransformação, reduzindo assim sua alteridade constitutiva e possibilitando, em última instância, o parentesco. O artigo ainda discute duas formas de classificação dos não índios nas terras baixas sul-americanas e a relação da “domesticação dos brancos” com outras duas sínteses sobre a América indígena, aquela da “predação familiarizante” (Carlos Fausto) e aquela da “civilização do outro” (Fernando Santos-Granero). Ao final, traça-se uma conexão com a proposta de trabalho, de Marcio Goldman, por uma “teoria etnográfica da contramestiçagem”.