Este ensaio visa a analisar o relato (récit) em Maurice Blanchot a partir das duas versões da sua obra Thomas l’obscur – a primeira publicada em 1941 e a segunda, em 1950 –, em se pensando na metamorfose sofrida pelo romance (roman) de 1941, bem como nos elementos comuns às duas versões. É conhecido, sobretudo, recentemente, após a publicação de Maurice Blanchot – Passion Politique (2011), que o jovem Blanchot, na década de 30, exercia a profissão de jornalista, enquanto dedicava suas noites à escritura ‘literária’ – aqui se incluiria a primeira versão de Thomas l’obscur. Não se pode esquecer que há uma discussão nunca interrompida sobre a conversão de Blanchot entre esta década e a posterior, nos anos 40, de certa postura ‘fascista’ a uma postura ‘comunista’ – em se reconhecendo os riscos desta simplificação. A fim de que se possam abordar algumas das passagens que foram ‘recortadas’ do romance de largo fôlego, é preciso falar com Dionys Mascolo em cuja carta, inclusa na publicação que teve lugar em 2011, se lê que se houve conversão de um Blanchot jornalista-escritor a um Blanchot com uma linguagem própria esta foi da escritura ao pensamento. Assim, este texto se concentrará nos traços de um pensamento que, em 1980, com a publicação de L’Écriture du désastre, alcançará uma separação – e uma proximidade – nunca antes testemunhada em relação a suas obras anteriores bem como à aparição de outros (filósofos, homens de letras) em cada um de seus fragmentos.