Vivemos em um período extremamente desafiador, em que o aumento das desigualdades sociais, o avanço da mutação climática e proliferação de situações climáticas extremas, bem como os resultados impostos pela pandemia de covid-19, demandam uma reflexão muito profunda sobre as bases que sustentam a organização social moderna. Resgatamos, nesse artigo, a noção de que os diferentes colapsos que se acumulam no mundo contemporâneo são consequências de uma cosmovisão extrativista subjacente ao mundo moderno. Defendemos, entretanto, que há uma diferença entre o discurso epistemológico oficial e o que encontramos nas práticas das ciências. Partindo de uma metafísica perspectivista e relacional, advinda dos estudos antropológicos de eduardo viveiros de castro e da antropologia do laboratório, propomos que as histórias das ciências oficiosas têm o potencial de contribuir para sonharmos outros mundos, justos e habitáveis. Para tanto, é necessário fundar uma pedagogia antinarcísica, no sentido discutido por castro, em que a valorização da autonomia dos sujeitos envolvidos, seja no processo histórico, ou na prática da sala de aula, deve ser tomada como princípio fundamental, em contraposição à imposição de uma proposta de mundo pré-definida, típica do pensamento hegemônico.