RESUMO Neste trabalho, problematizo o conceito de categoria gramatical, particularmente gênero, apontando suas limitações como categoria discreta das línguas, a partir de cosmovisões diversas, a fim de redimensionar sua pretensa universalidade. As categorias gramaticais conhecidas no mundo ocidentalizado são constituídas ontologicamente, perpetrando-se como pressuposto na análise linguística desde então. Sua estrutura baseada em um Ser ocidental não é questionada em toda a sua existência, domesticando a descrição das diversas línguas. Entretanto, a partir de estudos linguísticos tipológicos e antropológicos que levaram em consideração epistemologias e cosmogonias diversas, foi possível verificar uma discrepância entre a categoria linguística gênero em diferentes línguas. Essa imposição categorial na análise linguística mostra-se ainda mais violenta quando vista através das lentes decoloniais, que nos permitem delinear não apenas uma epistemologia racista e sexista nos contornos da gramática/linguística ocidental, mas também ao confrontarmos um modelo ontológico às diversas cosmovisões. Dessa forma, ofereço uma reflexão do conceito de gênero gramatical como categoria, a partir da descentralização do conhecimento e de uma topologia linguística do ser, visando o cotejo do conceito convencional de gênero, caro à tradição gramatical, e suas representações em algumas línguas não indo-europeias, destacando seu apagamento na formulação do conceito de universalidade gramatical.