Passados dois anos da declaração da pandemia pela Organização Mundial da Saúde, ainda vivemos e convivemos com o vírus e suas mazelas: conforme dados da John Hopkins University o dia 20 de abril 2022 contabiliza 505 milhões 193 mil pessoas infectadas desde o início da pandemia e 6 milhões e 204 mil mortes, além de novos focos em Shangai vivendo outro lockdown e uma variante recombinada da Omicron, diferente das conhecidas variantes XE e XJ. Por todo o globo pessoas e governos com dificuldades econômicas e financeiras. Na Ucrânia uma guerra.Os processos globais são vividos pelas pessoas em seus lugares, ainda que estejam conectadas com o que ocorre em várias partes do mundo (Santos, 1996: 251). A pandemia em curso, em alguns lugares com mais controle e vacinação, demonstrou e alargou ainda mais as distâncias existentes entre os lugares. Essa categoria analítica importante, dado que a localidade ao mesmo em que se contrapõe à globalidade, dialeticamente, também participa dela, nos faz ver e sentir o mundo graças a proximidade. Entretanto, exatamente ela, a proximidade, nos foi proibida durante a pandemia. O agravamento das distâncias não foi apenas econômico e financeiro, mas social também. A noção de copresença a nós negada foi substituída pela cooperação salvadora das distâncias.Pessoas desconhecidas entre si, em vários setores, foram chamadas a se manterem presentes, visando o bem-estar coletivo. Correram riscos de vida para salvaguardar tantas vidas. E não falamos apenas de profissionais de saúde, importantes sem dúvida; mas motoristas de ônibus urbanos e interestaduais, empregadas domésticas, cuidadoras e cuidadores, coletores de lixo e varredores, taxistas, servidores públicos de manutenção urbana, balconistas de farmácias, motoboys, cozinheiras, para quem não houve o privilégio de esperar uma pós normalidade, ao menos no aspecto laboral.Pós normalidade que nos faz pensar os anos anteriores com uma perspectiva de passado pré-crise. Para mulheres e homens em 2022, o longínquo 2019, com sua cotidianidade já abrandada pelo tempo decorrido e pelo abrandamento da percepção dos problemas vividos parece um período, que se pode chamar, de normalidade. E com essa sensação de que, em algum momento, tivemos domínio dos acontecimentos de nossa vida, talvez seja melhor não questionamos a possibilidade, tanto da normalidade quanto do domínio dos acontecimentos, tanto faz se em 2019 e 2022 ou 2050.