Este escrito é resultado de algumas reflexões suscitadas, sobretudo, a partir da prática clínica com crianças e adolescentes num serviço público que oferece atendimento psicológico e assessoria a escolas de um municí-pio do Rio Grande do Sul. A experiência nesse centro vem revelando uma situação que demanda atenção: muitas crianças vêm para atendimento carregando consigo um diagnóstico já estabelecido, realizado, em sua maioria, por profissionais da área médica, principalmente psiquiatras e neurologistas.Ao mesmo tempo, além dessa questão do diagnósti-co, é possível perceber outro ponto que igualmente requer um olhar crítico: a prescrição excessiva de medicação nessa fase constituinte da vida do sujeito, como se esse recurso fosse o único ou o principal na condução terapêutica das psicopatologias nesse perío-do. A respeito disso, pode-se citar como exemplo o uso do Cloridrato de Metilfenidato, conhecido popularmente como Ritalina, comumente prescrita a crianças diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (Brasil, 2012), esse medicamento teve uma elevação eloquente de consumo de 75% entre crianças de seis a 16 anos, dentre 2009 e 2011, e a explicação dos psiquiatras para esse crescimento se relaciona ao diagnóstico do TDAH estar mais apurado.Isso
RESUMOEste artigo objetivou abordar as especificidades do processo diagnóstico nas psicopatologias na infância a partir de uma revisão da literatura. Num primeiro momento, realizou-se uma fundamentação teórica acerca de como a psicanálise concebe o diagnóstico, contrapondo com a perspectiva médica. Posteriormente, refletiu-se sobre como pensar esse processo na infância, considerando suas particularidades. Por fim, discutiram-se as repercussões do ato diagnóstico nesse período tão peculiar, tendo como inspiração recortes da prática em psicologia clínica e escolar, articulando-os com os achados teóricos. Enfim, discutiu-se sobre a excessiva prescrição medicamentosa percebida na atualidade, como também sobre os efeitos possíveis que podem surgir nos espaços por onde a criança circula: seu meio familiar, escolar e social. Palavras-chave: Diagnóstico; infância; psicanálise.
ABSTRACT Diagnosis of childhood: what are the possible implications?This article aimed to address the specificities of the diagnostic process in psychopathology in childhood from a literature review. At first, there was a theoretical basis on how psychoanalysis conceives diagnosis, contrasting with the medical perspective. Subsequently, reflected on how this thinking process in childhood, considering its particularities. Finally, were discussed the repercussions of the diagnostic act so peculiar in that period, taking as inspiration clippings practice in clinical psychology and school linking them with the theoretical findings. Anyway, it was discussed about the excessive prescriptions perceived today, but also about the possible effects that may arise in the spaces where the child circulates: their family e...