A atual dissertação tem como objetivo refletir acerca do Tratado do não-ser e do Elogio de Helena, ambos atribuídos a Górgias, avaliando a possibilidade de um pensamento que os perpasse. Para fazê-lo, primeiro buscamos aquilo que poderíamos considerar ser um núcleo do pensamento gorgiano que as duas versões do Tratado (uma do Anônimo de M.X.G. e outra de Sexto no Contra os lógicos) perfazem. Em nossa leitura, concluímos que o Tratado parece buscar a determinação dos limites do lógos: este não é capaz de plenamente traduzir em palavras as coisas externas a ele. Pensamos que tal condição acarreta uma consequência epistemológica, visto que, se buscamos o conhecimento de algo, utilizamo-nos do discurso para tentar expressar o que concebemos até o momento. Ora, se o discurso não é capaz de comunicar plenamente o nosso objeto de pesquisa, então não se é possível expressar realmente nossas considerações; e, se somos capazes apenas de verificá-las no discurso, não há como termos certeza de sua veracidade. O Elogio, ao considerar a alma incerta que busca por opiniões instáveis, parece retomar a consequência dos limites do lógos estabelecida no Tratado. Isso porque, se a alma não é capaz de verificar se ela conhece ou não, ela acaba incerta. Diante disso, o Elogio introduz, então, o poder do lógos: ele, através de um corpo, é mais estável que a alma e, portanto, a persuade para agir conforme aquilo que a comunica. Além disso, assim como no Tratado, o Elogio não coloca o lógos em concordância com aquilo que lhe é externo e, dessa forma, o lógos persuade as almas independentemente da sua veracidade.