IntroduçãoA característica mais marcante da distribuição de renda brasileira é a concentração de renda no topo. A distância que separa os ricos do resto da população é tão perceptível a olho nu quanto em bases estatísticas. No entanto, nem sempre a pesquisa acadêmica sobre desigualdade privilegiou esse recorte. A ênfase variou muito ao longo do tempo, atingindo intensidade iné-dita nos últimos anos: o número de artigos, capítulos, dissertações e teses sobre o assunto cresceu exponencialmente desde que Medeiros (2004a) publicou nesta revista sua resenha sobre os ricos e as teorias de estratificação social.O objetivo deste texto é recuperar essa história e oferecer um panorama da produção recente. Para isso, a revisão bibliográfica cobre cerca de cinco décadas de estudos empíricos sobre o Brasil e contextualiza a preocupação com os ricos em relação ao debate dominante sobre a distribuição de renda no país. Nesse contexto, procurei destacar como os enquadramentos dados à desigualdade também variaram ao longo dos anos e como o recorte específico a partir dos ricos contribui com diagnósticos, hipóteses e interpretações diferentes dos que emergem da análise de outros estratos.O foco, portanto, recai sobre trabalhos empíricos acerca dos níveis, tendências e causas da concentração de renda entre os ricos. Diante da proliferação de estudos, optei por classificar a produção recente em suas vertentes principais, chamando a atenção para as perguntas de pesquisa, as contribuições e as lacunas de cada uma. A exposição segue ordem essencialmente cronológica, precedida por uma breve seção com esclarecimentos metodológicos e conceituais.Dado esse escopo, esta resenha não contempla uma série de análises sobre temas correlatos. Não trato aqui de estudos sobre as consequências da concentração de renda no topo nem sobre a distribuição de riqueza ou patrimônio. Também não abordo as discussões sobre as percepções das elites nem sobre a coesão e articulação de elites políticas, empresariais, burocráticas, acadêmicas e afins.