Nas últimas décadas, tem havido um processo de expansão do ensino superior no Brasil, considerando políticas internacionais e nacionais. A área da enfermagem insere-se também nesse processo, com expansão de vagas, principalmente em cursos noturnos em instituições de ensino superior (IES) privadas. Nesse contexto, faz-se presente a possibilidade de inserção de trabalhadores nas IES. O presente estudo teve como objetivo compreender a trajetória do trabalhador-estudante no curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP. Esse curso foi iniciado em 2006, inserindo-se no contexto da política de ampliação de vagas públicas, principalmente para o período noturno, no estado de São Paulo. Trata-se de pesquisa qualitativa, descritivo-exploratória, que utilizou entrevista semiestruturada como técnica de coleta de dados, tendo como participantes trabalhadores estudantes egressos desse curso, desde o ano de 2006 a 2013. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EERP-USP. Foram realizadas nove entrevistas semiestruturadas, de janeiro a julho de 2019, analisadas por meio da análise temática. Foram configuradas três categorias de análise, sendo elas, "Da educação básica ao ingresso no ensino superior: a trajetória do trabalhador estudante"; "Mercado de trabalho: a importância da possibilidade de inserção e/ou permanência"; e "A trajetória do trabalhador estudante durante a formação na IES". Os trabalhadores estudantes entrevistados eram técnicos de nível médio em enfermagem no momento do ingresso no curso e vislumbraram a possibilidade de conciliar trabalho e estudo, uma vez que a trajetória prévia construída na educação básica pública, com a continuidade dos estudos na modalidade educação profissional técnica de nível médio se apresentou, em momentos anteriores, como fator limitador para a continuação dos estudos em nível superior, o que se relaciona, de certo modo, à dualidade estrutural do sistema escolar brasileiro. A procura pelo curso apresentou-se também como uma possibilidade de inserção rápida ou permanência no mercado de trabalho, associada ao que parece ser uma ascensão que perpassa a hierarquização social e econômica da equipe de enfermagem. Algumas vivências dos trabalhadores estudantes, ao longo do curso, envolveram o não reconhecimento, por alguns sujeitos, do direito da sua inserção, como trabalhador, no curso. Em meio a essas vivências, os participantes valorizaram a trajetória individualizada, com certa naturalização da responsabilização individual pelo "sucesso" ou "fracasso" da formação, estando em consonância com a lógica neoliberal. Acredita-se que os resultados obtidos neste estudo podem subsidiar reflexões sobre a forma como a inserção de trabalhadores, no contexto de expansão de vagas no ensino superior, tem sido compreendida nos espaços de formação docente e de tomada de decisões institucionais.