O que significa ser homem se encontra, na contemporaneidade, em contestação. Grupos com filosofias por vezes antagônicas, tanto (hetero)normativas quanto plurais ou contra hegemônicas, buscam conduzir os debates e a produção imaginária e ficcional da masculinidade de acordo com seus próprios preceitos, normas e discursos. O que está em jogo hoje são imagens em disputa de diferentes sentidos sobre o que significa ser homem. Esta dissertação se desenvolve a partir da análise do Projeto Chicos, de Fábio Ladeira e Rodrigo Lamounier: uma produção textual, audiovisual e iconográfica de nus masculinos que registra narrativas, imagens, relatos e experiências de homens que escapam ao sistema sexo/gênero. Compreendendo o objeto como uma produção de nudes póspornográfica -com base nas discussões desenvolvidas por Paul B. Preciado -, o ponto fulcral deste trabalho é estudar a construção das masculinidades em Chicos por meio de seus recursos visuais à luz do conceito de sobrevivência da Antiguidade, buscando um diálogo conceitual entre diferentes áreas das ciências humanas, como a história, a antropologia, a filosofia e a história da arte. Tomando por base os pressupostos metodológicos estabelecidos por Ana Maria Mauad, Vania Carneiro de Carvalho e Solange Ferraz de Lima, o Projeto Chicos foi abordado a partir de um olhar, em um primeiro momento, quantitativo e serial, e que possibilitou, posteriormente, um estudo sobre as formas sobreviventes da Antiguidade clássica descritas por Aby Warburg e suas relações fantasmais com o objeto de estudo. Desse modo, almejou-se discutir como a masculinidade, em suas diferentes formas de expressão, é construída nas fotografias do Projeto Chicos a partir das poses, gestos e motivos iconográficos sobreviventes de uma história da arte que assume a Antiguidade clássica como cânone, cujas formas e discursos atravessam a produção de Ladeira e Lamounier.