O modelo de cidades criativas que tem sido praticado em todo o mundo é uma das respostas à crise do capitalismo industrial frente ao processo de reestruturação produtiva que abalou as bases econômicas tradicionais. A Quarta Revolução Industrial evidenciou a amplificação do mercado sob os auspícios do regime neoliberal e a indústria cultural, potencializando o modelo, com impactos significativos na ampliação das desigualdades socioespaciais. Este artigo pretende demonstrar que, em paralelo a tais processos hegemônicos na agenda das cidades criativas, é possível encontrar outros processos que contestam seu modus operandi e que reforçam a emersão de outros valores no entrelaçamento dos interesses comunitários em oposição aos interesses exclusivamente privatistas do mercado. Para isso, o artigo tece uma trajetória da implantação de um parque urbano na cidade de São Paulo, o Parque Augusta, que teve a participação direta de várias organizações da sociedade civil para a sua efetivação. Como base teórica estrutural, o artigo parte do argumento de que as forças sociais que se aglutinaram em defesa do parque estão inseridas no âmbito do Comum, assim como em muitos outros processos que já foram relatados pela literatura. Utilizando-se de um método historiográfico baseado em fontes documentais e na triangulação dos dados obtidos, a narrativa foi construída de forma cronológica, considerando, através das evidências apresentadas pela documentação, como a organização dos coletivos e as atividades praticadas no espaço reverteram o processo de privatização que estava em curso sobre o terreno.