Resumo:O tema deste artigo aborda as letras de frevo como documento e sua relação com a memória social e afetiva; por isso, trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e documental cujo objetivo principal foi considerar, a partir das letras de frevo do maestro pernambucano Nelson Ferreira, a relevância da informação musical para a reconstituição da memória da cidade do Recife. Para tanto, estabeleceu-se como corpus as letras de frevo-canção e frevo de bloco do músico, gravadas nas duas coletâneas da extinta fábrica de discos Rozenblit: O que eu fiz e você gostou... de 1959 e O que faltou e você pediu... de 1968, adotando como método a avaliação qualitativa da Análise de Conteúdo. Assim, os 39 frevos demonstraram, por meio de quatro categorias temáticas, que as letras são um produto de seu tempo, mas que também são um produto do olhar e da experiência de um homem em sua época, a qual, a partir do fenômeno da reprodutibilidade da informação, foi então massificada e perpetuada por quase 100 anos, repetindo-se por meio das narrativas das canções que, ao serem tocadas, ativam essa memória, trazendo-a para o presente e diluindo a memória individual de cada um, criando vínculos sonoros.
Palavras-chave: Ciência da Informação. Memória social. Memória afetiva. Lugar de memória. Frevo. 1 Introdução No carnaval de 1977, a loja de tecidos e confecções pernambucana Casas José Araújo estreava nas rádios e televisões da época mais uma propaganda para aquele período momesco. A chamada, no entanto, não exibia os produtos da loja com seus tecidos coloridos, como era de costume, mas um frevo-canção acompanhado de um vocativo que viria a se tornar conhecido até os dias de hoje: o escuta, Nelson, o teu frevo está no ar. A canção registrava não somente a morte do maestro Nelson Ferreira, em dezembro de 1976, mas também a permanência expressiva de suas letras e melodias no imaginário popular daqueles tempos, algo que se apresenta até os dias atuais.A homenagem não era sem motivo. Nelson Ferreira tinha partido depois de deixar um extenso legado à cultura brasileira, por meio de sua carreira como compositor, músico, diretor musical e maestro de orquestras, acompanhando e registrando as transformações urbanas e culturais de sua época em suas letras e cançõesum papel que acabou lhe conferindo o título de o dono da música.Assim, após mais de 40 anos de sua morte, as composições do maestro Nelson Ferreira, sobretudo os frevos, nunca deixaram de ser reproduzidas, tendo alcançado inclusive as várias gerações que vieram depois, como que confirmando o prenúncio do famoso jingle que anunciava: o teu frevo está no ar. Dessa forma, a reprodução amiúde das letras de frevo do maestro, sempre no ar, é também a reprodução das narrativas construídas por Nelson, contando e recontando aquilo que o músico procurou registrar em sua época e cuja execução massiva não somente impediu o apagamento, como acabou por diluir essas narrativas nas chamadas memória coletiva, social e afetiva da cidade do Recife, demonstrando, com isso, o caráter documental da info...