Utilizando-se da noção de campo apresentada por Pierre Bourdieu, pretende-se refletir sobre a inserção de pesquisas sobre patrimônio cultural no universo da Ciência da Informação. Para isto, torna-se necessário conhecer o que é produzido sobre o tema nas publicações consideradas da CI, saber quem são os agentes que falam do patrimônio cultural, refletir sobre a visibilidade e prestígio destes agentes e a inclusão do assunto nas instituições e principais eventos da CI.
Pretende-se apresentar um panorama dos discursos e ações sobre o patrimônio cultural brasileiro para, em seguida, discutir contribuições e relações que podem ser estabelecidas a partir dos fundamentos da Ciência da Informação. A primeira é a relação entre patrimônio e o conceito de documento, a segunda sobre os processos documentais e o cientista da informação, e a terceira uma abordagem da mediação e apropriação cultural do patrimônio.
Ao contrário de países como França e Inglaterra, o Brasil não possui uma tradição de publicação de bibliografias comerciais correntes ou públicas nacionais que permitam averiguar a produção nacional de livros por longos períodos, ainda que o depósito legal seja uma realidade há mais de um século. As nossas principais bibliografias foram interrompidas ou perderam continuidade após alguns anos, dificultando a realização de pesquisas sobre determinados períodos históricos. Atualmente, o Brasil não dispõe de uma bibliografia nacional corrente e a Biblioteca Nacional enfrenta dificuldades para manter os seus registros eletrônicos atualizados. Desse modo, defende-se que os catálogos editoriais podem contribuir para pesquisas ao permitir a constituição de listas bibliográficas, embora, na maioria das vezes, não adotem um vocabulário controlado para facilitar a recuperação dos seus registros. Com o advento do digital, diversas editoras têm substituído a produção de catálogos impressos pela disponibilização de registros online. Assim sendo, aborda-se, a partir deste quadro, o catálogo editorial e a bibliografia com fontes de pesquisa assim como se discute os avanços e desafios para a produção desses instrumentos na contemporaneidade.
Resumo: Verifica-se, nos últimos anos, um crescente debate, seja na imprensa, nas redes sociais ou nas casas legislativas de todo o Brasil, sobre a "ideologia de gênero". A partir do discurso de que esta "ideologia" seria uma "ameaça à família", "a Deus", "à moral e aos bons costumes", políticos conservadores têm tentado aprovar leis para impedir a discussão nas escolas de temas relacionados ao conceito de gênero, incluindo nesta proibição o acesso a livros, didáticos ou ficcionais. Considerando esse quadro, apresenta-se uma revisão de literatura que relaciona os estudos de gênero e as pesquisas sobre censura no Brasil com o objetivo de investigar se tais ações políticas e práticas discursivas são uma novidade, como a expressão "ideologia de gênero", ou se suas justificativas e consequências apresentam uma continuidade com outros momentos da história do país. Conclui-se que as tentativas de censura a livros que questionam a moral sexual dominante são uma realidade ao menos desde o Estado Novo e que os argumentos utilizados contra determinadas fontes de informação se assemelham ao longo do século XX e início do XXI. Alerta-se ainda para o risco do emprego de expressões vagas e obscuras que podem promover a censura, mesmo quando ela não está definida explicitamente em lei.Palavras-chave: Censura. Estudos de gênero. Livro. Biblioteca. Orientação sexual.
IntroduçãoNos últimos anos, temos observado em jornais, páginas da internet, redes sociais e discursos parlamentares o crescimento de citações a uma "ideologia de gênero". Na maioria das vezes, a expressão, apoiada em referências religiosas, é utilizada para alertar sobre supostos perigos relacionados à sexualidade e ao gênero, especialmente quando envolve o reconhecimento dos direitos humanos de minorias sexuais. Uma das consequências tem sido um maior cerceamento ou
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.