O objetivo deste trabalho foi o de analisar as produções de linguagem de uma jovem que apresenta a comorbidade síndrome de Down e comportamentos autísticos, com a finalidade de entender a relação dos avanços linguísticos com a mediação do outro, considerando os pressupostos da teoria Histórico-Cultural e da Neurolinguística Discursiva (ND). O sujeito da investigação é acompanhado longitudinalmente no Laboratório de Pesquisas e Estudos em Neurolinguística (LAPEN) há cinco anos, sendo que os dados apresentados são referentes ao período de Fev/2016 a Dez/2017. O percurso metodológico se baseou em atendimentos individualizados realizados no LAPEN e em encontros no domicílio da jovem. A mediação envolveu estratégias diversificadas que buscaram atender às especificidades do sujeito, utilizando como instrumentos histórias infantis, vídeos musicais, revistas juvenis, jogos lúdicos e fantoches. Os registros dos dados foram realizados por meio de anotações em caderno de campo, filmagens, fotografias e gravações de áudio, contendo diferentes situações enunciativo[1]discursivas. A análise e discussão dos resultados são apresentadas em duas etapas: 1. Transcrições e descrições contextuais das situações enunciativo-discursivas e das mediações realizadas; e 2. Análise da efetividade da mediação, por meio da quantificação dos comportamentos que prejudicam o desenvolvimento linguístico do sujeito. Quanto à segunda etapa, os resultados foram ordenados em três recortes temporais: fase inicial (Fev/2016 a Set/2016), fase intermediária (Out/2016 a Mai/2017) e fase final (Jun/2017 a Dez/2017). Com base nos recortes descritos, para analisar se as mediações realizadas foram efetivas, ao longo da pesquisa, elencaram-se os comportamentos que comprometiam o funcionamento da linguagem da jovem e um comportamento de resposta esperada, quantificando-se a frequência em que emergiram. Foram quantificados os seguintes comportamentos: ausência de respostas a um determinado questionamento, ausência de coerência textual entre as falas da situação enunciativo-discursivas, utilização da terceira pessoa para se referir a si mesma, ecolalia imediata e resposta coerente ao questionamento realizado. A partir da mediação do outro e do uso de estratégias específicas, os comportamentos que comprometem o funcionamento da linguagem do sujeito diminuíram e a fala ecolálica se manifestou como processo intermediário de desenvolvimento dos processos linguísticos. Os resultados obtidos demonstram que a mediação do outro pode contribuir significativamente para os avanços na linguagem de sujeitos com síndrome de Down mesmo quando a síndrome está associada a comportamentos autísticos. As estratégias elencadas no presente trabalho podem ser utilizadas e/ou aperfeiçoadas pelos pais e diferentes profissionais que acompanhem sujeitos com comprometimentos na linguagem similares ao caso descrito da comorbidade síndrome de Down e comportamentos autísticos. Consideramos que tais estratégias sejam empregadas em novos estudos, a fim de comprovarmos sua efetividade e contribuição para os estudos de linguagem.