PERSPECTIVAS
Artigo convidadoPOR UMA PESQUISA QUE FAÇA SENTIDO A questão do impacto social da pesquisa científica é um tema de relevância na agenda atual não só no Brasil, mas internacionalmente, e é foco de preocupação não apenas dos cientistas, mas da sociedade em geral. Entre os cientistas, destacam-se os questionamentos que emergem sobretudo a partir dos anos 1970 e 1980, tendo como estopim a "Guerra das Ciências" (Santos, 2004), e que promovem uma desnaturalização da ciência como espaço de neutralidade e enclave autônomo e descolado da sociedade e suas influências (políticas, ideológicas, religiosas etc.). Já do lado da sociedade, diante dos inúmeros e complexos problemas socioambientais do nosso tempo, percebe-se um clamor para que a ciência seja um espaço para construção de novas compreensões sobre o presente e o passado, e para pensar novos futuros possíveis.No campo da Administração, a discussão sobre o impacto social da ciência está normalmente associada ao debate sobre a aplicação do conhecimento e seus efeitos, aspecto sem dúvida relevante.Entretanto, diante dos desafios atuais, faz-se necessário discutir a questão do impacto social para além da funcionalidade da pesquisa científica e sua aplicação no campo prático. Para nós, a questão do impacto social da pesquisa diz respeito a questões mais amplas, como a própria relação entre ciência e a sociedade, à prática científica e ao papel da ciência como vetor de transformação da realidade. Nesse sentido, é preciso rediscutir também o papel da ciência da Administração e suas consequências, seja no âmbito público, privado ou das organizações da sociedade civil.
MAS QUAL CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO?Ainda hoje, coloca-se a questão de a Administração ser ou não ser considerada uma ciência. Esse questionamento relaciona-se à ideia de que uma ciência aplicada e tão contaminada com as práticas não seria digna de ser considerada ciência. Tal concepção tem origem no debate clássico nos âmbitos da filosofia da ciência, desde Francis Bacon e René Descartes até Talcott Parsons, e da sociologia do conhecimento, por exemplo, com Weber (1973) e Merton (1967. Esse debate foi essencial para fundar as bases de uma compreensão das ciências sociais como ciências menores, por não terem um alto grau de autonomia em relação a outros domínios do saber, como a política, por exemplo. Essa compreensão da autonomia científica (como uma capacidade de estar imune à influência dos demais campos de saberes) naturaliza a ideia de que a boa ciência é aquela que se