“…Encontram-se artefatos de uso ritual ou cerimonial, como as máscaras Tikuna, no Amazonas, que incorporam crina de cavalo à guisa de barba, algumas delas presentes na coleção Harald Schultz, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (VIEIRA; CURY, 2021), e os guizos que os antigos Guarani faziam de crânios de cabras (MÉTRAUX, 2012, p. 305). Registram-se, ademais, os belíssimos instrumentos musicais de sopro (em geral buzinas, também denominados trompetes ou apitos) produzidos por muitos povos espalhados pelo continente: pelos Tenetehara-Guajajara no Maranhão, pelos Kaingang no Paraná, pelos Kadiwéu na região pantaneira, pelos Puri em Minas Gerais no século XIX, por vários povos na região do Chaco (Paraguai, Argentina e Bolivia) e na Venezuela, mas, sobretudo, por vários grupos de língua Jê-Bororo no Brasil central (Krahó, Kanela, Krikati, Krepimkateye, Apinayé, Bororo, Mebengokre-Kayapó), nas quais os chifres bovinos -ou de búfalo, no caso de uma buzina fabricada pelo povo Umutina, no Mato Grosso (BIANCARDI; SPINOLA, 2017, p. 87) -parecem ter substituído as cabaças empregadas originalmente (CIVALLERO, 2017;IZIKOWITZ, 1935, p. 218-256;VANDER VELDEN, 2020c), dando forma a aerofones por vezes semelhantes aos berrantes bastante conhecidos no mundo rural brasileiro (Figura 4). Por intermédio de fontes documentais e de coleções museológicas, sabe-se que artefatos como esses são desde o início do século XIX, o que se verifica pela existência da bela buzina Kayapó do Sul, coletada em 1820 pelo naturalista Johann Emanuel Pohl no aldeamento de São José de Mossâmedes, no rio Araguaia, em Goiás, e que hoje integra a coleção Natterer do Weltmuseum de Viena, Áustria (AUGUSTAT, 2013, p. 108).…”