Quando pensamos em cenas cotidianas, como o preparo de alimentos, a construção de habitações, a caça e a pesca, o preparo de contextos funerários, há uma grande quantidade de materiais que não se preservam no registro arqueológico. Alguns exemplos são: palhas, têxteis, gorduras, banhas, couros, insetos, resinas, entre outros. Esses elementos estão na “cena”, mas são esquecidos, uma vez que não são encontrados. Pesquisas que buscam pensar na reconstituição dos espaços, dos materiais, dos gestos no presente, têm nos ajudado a pensar, de uma maneira holística, sobre as tecnologias, seus materiais e vestígios. Partindo de um olhar atento para os gestos utilizados na atualidade e para tecnologias conhecidas etnograficamente em ornamentos, tratamento de carnes, gestos culinários, artefatos em osso, entre outros, procuramos explorar o potencial para estudos de tecnologias perecíveis buscando relações com vestígios encontrados em contextos arqueológicos brasileiros. Sabendo que as tecnologias perecíveis foram utilizadas no passado, nós, enquanto arqueóloga/e/os, devemos refletir sobre métodos de coleta, análise e interpretação dos vestígios que permitiriam uma visão mais holística e cultural das interações entre plantas, animais e humanos no passado.