ResumoEste artigo busca discutir, a partir da Aufhebung freudiana e da perspectiva psicanalítica lacaniana, notadamente a de Rassial, as fronteiras na contemporaneidade, cujo cenário aponta para uma nova ordem que contribui para a carência do simbólico, trazendo transformações no laço social e, consequentemente, repercussões no sujeito. Em vez de afirmar a Lei, essa nova ordem convoca a negá-la ou apagá-la ao buscar derrubar limites e fronteiras. Pensando a adolescência como uma situação de fronteira, em que a dialética de se submeter ou ultrapassar e, até mesmo, negar a Lei constitui uma questão central, discutimos tais efeitos no adolescente que vive o processo de revalidação do Nome-do-Pai, significante do interdito que institui fronteiras. Essa condição o deixa vulnerável a se envolver em infrações. Ao encontrar um Outro que se constitui como lugar de endereçamento que sustenta o interdito e lhe possibilita se defrontar com limites e fronteiras, o adolescente reconhece a Lei, mesmo que, em algum momento, possa transgredi-la, uma vez que a transgressão é inerente à adolescência. Por outro lado, a ausência de um Outro que se coloque nesse lugar e viabilize a afirmação da Lei cria obstáculos ao processo de revalidação do Nome-do-Pai. Certas mudanças no laço social atual têm dificultado esse processo e, assim, fomentado o envolvimento do adolescente com a infração. A vulnerabilidade social provoca a vulnerabilidade psíquica e, em resposta, alguns adolescentes da atualidade parecem se ver perdidos, errantes, em pane, diante das dificuldades que encontram ao longo do processo de validação. Uma pane de referência à Lei tem efetivamente contribuído para o aumento do número de adolescentes que ultrapassam a transgressão e tornam-se infratores (delinquentes), por vezes, violentos ou, até mesmo, muito violentos.
Palavras