Entre 1926 e 1927, anos que antecederam a publicação do Manifesto Antropófago, Oswald de Andrade manteve uma coluna semanal no Jornal do Commercio, edição São Paulo, publicada sempre às quintas-feiras com o título “Feira das quintas”. Os textos geralmente abordavam fatos ou temas do momento, muitas vezes incluindo, em uma mesma coluna, discussões sobre tópicos diversos, como se a leitura fosse análoga a uma caminhada por diferentes barracas em uma feira. Os tópicos incluíam desde a programação cultural da capital paulista, passando por comentários a respeito de obras públicas, pelo falecimento de astros de Hollywood, por polêmicas acirradas contra os líderes do Movimento Verde-Amarelo (Menotti del Picchia, Plínio Salgado e Cassiano Ricardo), entre outros. Quanto ao gênero, os textos são híbridos entre crônicas e contos, alguns contendo diálogos ficcionais em meio a discussões sobre fatos da semana, outros inteiramente dedicados à narrativa ficcional. Tratava-se de um espaço de experimentação, que o escritor utilizou para elaborar ideias e operações intelectuais que, depois, o Manifesto Antropófago retomaria. Este artigo discute alguns fragmentos de três colunas “Feira das quintas”, cruzando-os com trechos do manifesto, com interesse específico no modo como Oswald de Andrade critica o gosto estético de seus contemporâneos e põe em relação o passado artístico e arquitetônico colonial do Brasil e alguns grandes monumentos da civilização ocidental. A hipótese lançada aqui é que o modo como o escritor trabalha essas duas questões já aponta para a urgência, fundamental para o projeto antropofágico, em reposicionar a imaginação histórica e artística brasileira contra modelos de pensamento eurocêntricos.