Resumo: Este estudo explora o sistema de terminologia de parentesco da língua Proto-Tupí-Guaraní (PTG) a partir de uma perspectiva interdisciplinar, que soma contribuições da Etnologia, da Linguística Histórica e dos trabalhos etnográficos realizados com povos Tupí-Guaraní. Fazem-se inferências sobre pré-história cultural utilizando métodos filogenéticos comparativos, um conjunto de ferramentas computacionais para explorar mudanças evolutivas em populações relacionadas, aplicados a um banco de dados de termos de parentesco em 24 línguas Tupí-Guaraní. Discute-se a amostra usada no estudo, os procedimentos de codificação adotados para dados tipológicos e os componentes, valores iniciais e premissas do modelo evolutivo. A análise de reconstrução de estados ancestrais baseada no critério de máxima parcimônia reconstrói vários traços tipológicos do sistema de parentesco do PTG, como: fusão e bifurcação na primeira geração ascendente (+1); distinções na terminologia de irmãos baseadas na idade relativa e no sexo do ego; e equação terminológica entre irmãos e primos paralelos. O estudo avalia o estado atual da reconstrução de formas linguísticas para termos de parentesco em PTG e mapeia estas formas no sistema inferido por análise comparativa. Este estudo de comprovação de conceito demonstra a utilidade de análise filogenética para inferir estruturas de sistemas de parentesco em comunidades linguísticas ancestrais.
Palavras-chave:Parentesco. Etnologia indígena. Linguística histórica. Filogenética computacional. Tupí-Guaraní.Abstract: This study explores the kinship terminology of Proto-Tupí-Guaraní (PTG) through an interdisciplinary perspective that draws on ethnology, historical linguistics, and the ethnography of Tupi-Guaranian peoples. Inferences about cultural prehistory are made through phylogenetic comparative methods, a suite of computational tools for exploring evolutionary change in related populations, applied to a dataset of kinship terms from 24 Tupi-Guaranian languages. The study outlines the coding procedure for typological data, along with the parameters, inputs, and assumptions of the evolutionary models. Parsimony-based ancestral state inference is used to reconstruct a number of typological features of the kinship system of PTG, such as fusion and bifurcation in the first ascending generation (+1), relative age and sex-based distinctions in sibling terminology, and terminological equation between siblings and parallel cousins. The current state of reconstruction of the linguistic forms for kinship terms in PTG is reviewed, and these forms are mapped onto the system inferred through comparative analysis. This proof-of-concept study demonstrates the utility of phylogenetic analysis for inferring kinship structures in ancestral language communities.